Povo vai ao evento na Prefeitura em busca de casas populares


Centenas de carentes, moradores de áreas de assentamentos e invasões, foram “convidados” a prestigiar a ministra Dilma Roussef, da Casa Civil, em frente à Prefeitura de Londrina, na manhã de ontem. Poucos sabiam tratar-se de um evento para a assinatura de contratos públicos para mais 2,2 mil residências do programa federal Minha Casa, Minha Vida em Londrina. A maioria nunca ouviu falar da ministra da Casa Civil e imaginava que estaria um passo mais perto da casa própria. Em plena segunda-feira, o ônibus da vila para a Prefeitura foi de graça.

O esforço de arrebanhar a pequena multidão para fazer loas ao staff ministerial que desembarcou em Londrina – principalmente à ministra Dilma – começou durante o fim de semana. Líderes de bairros e funcionários da Prefeitura ligados a movimentos populares – somados a vereadores – convocaram pessoas para o evento. Muitos, no entanto, sentiram-se enganados.

“Achei que ia chegar aqui e entrar numa fila para me inscrever e ter uma casa. Quem é essa mulher que ‘tão dizendo que vem aí?”, questionou Valquíria Aparecida de Oliveira, trabalhadora “da roça” que pula de invasão em invasão para conseguir um lugar onde morar. Valquíria tomou um ônibus gratuito, posicionado estrategicamente em bairros da zona leste, para levar o povo à Prefeitura. “O pessoal da Cohab apareceu lá com uma pilha de papel convidando a gente para fazer inscrição para ter casa. Cadê?”

Para ir até a Prefeitura, Adriana Aparecida, 22, moradora do União da Vitória II (zona sul), deixou sem escola o filho Danilo, 12. Levou também a pequena Ariadne, 1 ano e cinco meses. “Se soubesse que era isso nem tinha vindo. Achei que ia chegar mais perto de ter uma casa”, reclamou. No bairro, a Cohab também deixou um ônibus à disposição de quem quisesse ir ao Centro Cívico, com estímulo de líderes comunitários ligados à Prefeitura.

Um ônibus grátis veio cheio de gente do Jardim Monte Cristo (zona leste). Dele desceu Mario Augusto Filho, 34, desempregado, dentes estragados e mãos machucadas do trabalho na roça. “Quem? Dilma Russet? Sei quem é não”, respondeu, logo que abordado pela reportagem. “É aquela do cabelo assim?”, gesticulou com a mão, tentando lembrar. O pai, também Mario Augusto, carregava um cartaz: “Não escrevi isso não”. No cartaz, um pedido ao prefeito Barbosa Neto: “Somos acentados (sic) a (sic) cinco anos sem água nem luz”, dizia a mensagem, à mão.

Cohab admite trabalho para trazer parceiros

O diretor-presidente da Cohab, João Verçosa, confirmou que a Prefeitura “fez um trabalho para trazer os parceiros” ao evento mas negou que funcionários públicos tenham dado informações erradas ou feito promessas para “estimular” a comemoração com a presença dos ministros em Londrina. “A festa é para as famílias carentes e tínhamos que trazer aqui os maiores beneficiados pelo programa Minha Casa, Minha Vida”. Verçosa não soube dizer quantos ônibus foram mobilizados para o evento - disse que foram cedidos pela TCGL “a custo zero”.

O presidente da Cohab afirmou que os veículos foram ofertados gratuitamente porque “muita gente está desempregada” e não poderia pagar para estar na Prefeitura. Verçosa espera a geração de “pelo menos 1 mil novos empregos” com a construção das mais de 2,2 mil casas populares. Segundo ele, cursos de treinamento de mão-de-obra serão feitos por sindicatos do setor.

Fonte: Jornal de Londrina