Barbosa avalia 1º ano de gestão


Prefeito defende o enfrentamento e reafirma que foi eleito “para tomar decisões”

Às vésperas de completar um ano de mandato, o prefeito Barbosa Neto (PDT) vê na falta de recursos da Prefeitura o ponto fraco da sua gestão e na tentativa de enfrentar os problemas da cidade como o ponto forte. Segundo ele, “nenhum item do plano de governo ficou sem ter uma atenção nossa nesse primeiro ano”. Mas foi em nome do enfrentamento desses problemas que a administração se envolveu em algumas polêmicas, como no caso dos médicos plantonistas ou da dívida com os prestadores de serviço. Para o prefeito, não há problema. Ele acredita que foi eleito para “tomar decisões”.

Com relação à frequente mudança de secretários, Barbosa Neto alega que há mais um “rodízio”, do que secretários deixando a administração. Ele evitou entrar em detalhes sobre a investigação do Ministério Público e da Controladoria em torno contratação de empresas para a operação tapa-buracos, que envolve o ex-presidente da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), Nelson Brandão.

Para o futuro, Barbosa projeta uma Londrina na qual a estrutura pública funcione bem. “Não vai demorar muito para a gente ver isso, afirma.

“Nenhum item do plano de governo ficou sem ter atenção”

Jornal de Londrina – Como o senhor avalia o primeiro ano de governo?

Barbosa Neto – Obviamente eu não estou satisfeito 100%, com todos os problemas resolvidos. Mas nos temos que admitir, seja pelos nossos adversários ou qualquer outro, que nós atacamos todos esses problemas. Nenhum assunto, nenhuma pauta, nenhum item do plano de governo ficou sem ter uma atenção nossa nesse primeiro ano. E nós assumimos com dificuldades, mas mesmo assim nos atacamos todos os itens que nos propusemos e outros até.

JL – Qual o ponto forte e qual o ponto fraco do governo?

Barbosa Neto – A debilidade sem dúvida é a falta de recursos, a desmotivação dos servidores, falta de estrutura, de maquinário, de prédio, de equipamentos. Nós temos o sucateamento natural dos últimos anos, tivemos poucos concursos públicos. Eu sou o prefeito que mais contrata em primeiro ano de administração, com 200 novos profissionais, criando a guarda municipal. Fizemos três concursos públicos para a saúde. Tem os resultados positivos da própria Sercomtel.

JL – Há uma frequente troca de secretários na sua gestão. Isso não gera uma instabilidade, não dificulta uma solução de continuidade para as ações do poder público?

Barbosa Neto – Nós trocamos muito pouco nas áreas mais estratégicas. Perdemos o secretário de Saúde tivemos a ausência do secretário de Governo. O secretário de Obras, nós colocamos na CMTU, até pra fazer um giro que pudesse azeitar a máquina. Acho que esse revezamento pode ser muito saudável, isso é feito em varias outras empresas, para você conhecer aquele trabalho que você faz e ir para o outro que às vezes você acaba aprendendo também ali. Na verdade, os que saíram efetivamente foram poucos.

JL – Foi mais um rodízio?

Barbosa Neto. Sim. Primeiro que é uma prerrogativa do prefeito, pelo menos poder mandar nos cargos que você traz para a administração. É uma decisão administrativa, não tem nada de pessoal e o que impera obviamente é a meritocracia

JL – No momento de formar o secretariado o senhor consultou a sociedade civil, os setores organizados. Agora o senhor deixou de fazer esse tipo de consulta, até chegar ao ponto em que a entidade dos engenheiros agrônomos reclamou a indicação de uma nutricionista para a Secretaria de Agricultura.

Barbosa Neto – Seria até estranho se eles não se posicionassem. Nós entendemos esse corporativismo, é um espírito de corpo, uma defesa que eles fazem do seu meio. Agora, tem uma explicação: com a escola em tempo integral, o restaurante popular, o aproveitamento da soja na alimentação e também porque hoje a constituição fala do direito à alimentação como uma cláusula pétrea, não podemos simplesmente achar que só pode ser engenheiro agrônomo. Mesmo porque está cheio de engenheiro agrônomo na Secretaria, e continuam fazendo o seu trabalho e temos encontrado muitos elogios.

JL – Com relação ao secretariado, existem algumas saídas um pouco mais traumáticas. O caso de Nelson Brandão, que o apoiou desde o primeiro momento, que fez uma ponte do senhor com o empresariado, que era um segmento no qual o senhor não tinha muito contato. Essa saída repentina quebra essa ponte?

Barbosa Neto – A gente tem que dialogar com toda a sociedade e o prefeito que tem o seu gabinete aberto, que transita e frequenta todas essas entidades e que recebe todos aqui, não precisa de uma ponte. Em outros tempos, quando não havia esse diálogo, até talvez fosse necessário. O Nelson foi um companheiro que acreditou na nossa administração e nós reconhecemos isso, tanto que ele ocupou dois dos principais cargos da administração. Mas infelizmente nós não encontrávamos o Nelson quando precisávamos. Foi assim na Obras, foi assim agora e lamento ter que tomar essa decisão. Mas mesmo que ele possa vir a falar qualquer coisa contra a minha pessoa e a administração, eu sempre vou respeitá-lo e agradecer por ele ter acreditado na nossa administração.

JL – Além desse problema a saída do Nelson Brandão tem a ver com a investigação do MP a respeito da contratação das empreiteiras para a operação tapa-buracos?

Barbosa Neto – Eu não tive acesso ainda ao trabalho que a Controladoria está fazendo. Houve recomendação por parte do MP, nós determinamos que os procedimentos fossem realizados.

JL – O senhor pediu que fosse apurada a situação?

Barbosa Neto – Sim.

JL – E o procedimento ainda não foi concluído.

Barbosa Neto – Não

JL – Isso não interferiu na saída do Nelson? A saída dele da Secretaria de Obras para a CMTU se deve a isso?

Barbosa Neto – Eu prefiro, até por lealdade a ele, ter uma conversa pessoal, que eu não pude porque ele não estava com o telefone ligado nas vezes que liguei. Quando eu tomei essa decisão e queria passar a ele. E depois eu vou me pronunciar sobre isso,

JL – Desde quando o senhor tinha decidido a mudança e quanto tempo levou para tentar falar com ele?

Barbosa Neto – Eu tentei naquele dia (terça-feira), no momento em que a cidade passa por dificuldades na questão da capina e ele não estava. Ele tinha saído na semana passada, alegando problema de saúde na família e nós aquiescemos, naturalmente. Problema de saúde você não pode questionar. Agora, quando a gente procura e ele estava em viagem para pesca no Mato Grosso, aí nós ficamos bem chateados, porque os outros diretores todos estavam trabalhando, inclusive no feriado.

JL – Você estava com a decisão na cabeça, procurando ele desde quando?

Barbosa Neto – Foi agora, anteontem (terça-feira), na véspera do feriado que eu não encontrei mais ele.

JL – Com essa mudança o senhor teme um isolamento social com relação aos setores que o Nelson representava?

Barbosa Neto – Se você fizer uma análise, ninguém é unanimidade. Mas eu não quero polemizar sobre isso.

JL – O senhor tem dito como uma questão positiva, que o prefeito tem enfrentado vários problemas da cidade. Mas teve alguns enfrentamentos bastante duros. Essa forma de enfrentamento, o senhor acha que é correto? Não pode levá-lo ao isolamento?

Barbosa Neto – Não acho que a gente precisa ter interlocutores. Eu sou uma pessoa de fácil acesso, sou localizado, presidente das diversas entidades ligam direto para mim, eu os recebo ou vou até eles, foram diversas as vezes que eu fiz isso. Todos eles têm um canal direto com a prefeitura. Não vejo por esse lado. Somos democratas e estamos exercendo isso aqui. Só que tem algumas ações que a população outorgou o mandato ao prefeito, que tem que decidir. Não dá para você ficar num assembleísmo o tempo todo, consultando a cidade. Nos fomos empossados pela cidade e as decisões que nós tomamos têm o referendo da sociedade. O prefeito foi eleito para tomar decisões, não para transferir para a sociedade as decisões. Nós temos corpo técnico aqui e a decisão política é do prefeito.

JL – Isso vale também para situações como a do Calçadão, que é objeto de questionamentos?

Barbosa Neto – O Calçadão precisava ser reformado, esta sendo reformado, não apenas no discurso de 20 anos. E quando ele estiver entregue a cidade, tenho certeza que a população vai aprovar. Não adianta falar agora, porque você não pode fazer juízo de valor numa obra que está pela metade. Ou que ainda está em fase de acabamento, não es´ta com tudo pronto. Quando estiver eu quero que as pessoas julguem, mas ele vai garantir acessibilidade, vai ser muito melhor do que está ai hoje.

JL – Que balanço o senhor faz da implantação da escola em tempo integral? Existe o problema da estrutura física, que está aquém do que seria necessário. Tem o questionamento à secretária, da dificuldade de acesso às escolas, a dificuldade dos servidores das escolas que não podem se manifestar publicamente.

Barbosa Neto – A secretária é uma técnica, uma das melhores que nós encontramos para a pasta. A relação política é feita pelo prefeito nessa administração. Na passada era a secretária que representava o prefeito. Agora, eu me represento. Os resultados falam por si só. São três escolas no período integral, são 4.500 crianças. Se há problemas, são muito pequenos e nós já conseguimos resolver a maior parte deles. E é uma política nossa que vai ter um investimento cada vez maior. Vamos aumentar o número de crianças atendidas pelo regime integral.

JL – Com relação à saúde: o secretário foi seu companheiro de campanha, mas por outro lado ele tinha muito pouco trânsito na categoria dos médicos, que é a categoria profissional dele. Algumas crises ocorreram na saúde, parece que geradas pelo próprio temperamento do secretário. A alguns confrontos que ele fez com prestadores de serviço, com médicos. Essa saída acalma a saúde ou aquela é uma política da própria administração?

Barbosa Neto – O secretário sempre teve a liberdade de tocar a pasta da saúde da forma como ele acreditava ser a correta. Hoje nós temos um técnico que também está sendo muito elogiado pela população. Eu ouvi elogios de membros da saúde, da associação médica, inclusive dos prestadores de serviço. Mas nós tivemos aspectos muito positivos também. Se você analisar, Londrina deu exemplo de combate à dengue. Enquanto outras cidades estão com os índices lá em cima, nós baixamos. Tivemos índices de vacinação que superaram todas as metas do próprio Ministério da Saúde e que Londrina não via há muitos anos. Temos várias ações em andamento e eu acredito que vamos melhorar muito a saúde.

JL – Londrina vive uma situação diferenciada: o prefeito é do PDT e o líder da oposição é do PDT. Esse episódio com o vereador Joel Garcia está superado? O vereador diz que o senhor tem um temperamento autoritário, que não pode ser questionado.

Barbosa Neto – Sou tão autoritário que ele permanece no partido e eu nunca movi uma palha para tirar ele do partido. Ele foi colocado no cargo de líder do prefeito, mas sempre teve um comportamento de fogo amigo. Agora, quando nós constatamos que o comportamento do vereador chegou a ferir os nossos princípios éticos e morais, eu não tive outra alternativa senão denunciá-lo para o MP. Essa é a realidade.

JL – Normaliza a relação com a Câmara?

Barbosa Neto – Eu nunca tive embate com a Câmara.

JL – Foi pontual.

Barbosa Neto – Nunca falei nada da Câmara institucionalmente. Eu defendo o governo. Até sancionei projetos que os vereadores assim entenderam diversas vezes, alguns até com vicio de inconstitucionalidade, como foi o caso do feriado da Consciência Negra. O que vocês analisam é que não tem uma Câmara submissa, não tem rolo compressor, é um relacionamento republicano. Todos os projetos são votados, tudo é discutido, ao contrário de Legislaturas anteriores.

JL – O que o senhor projeta para o futuro?

Barbosa Neto – Quando estiver pronto o recapeamento da cidade, quando estiver feita a sinalização, quando a iluminação estiver funcionando a pleno vapor, resolvida essa parte da capina e roçagem, vamos ter a cidade como eu espero que ela funcione. Que funcione bem, para o orgulho dos londrinenses. Não vai demorar muito para a gente ver isso.

Evento vai avaliar 1º ano de mandato

A reunião de avaliação do primeiro ano do governo Barbosa Neto está marcada para amanhã, no auditório da Universidade Norte do Paraná (Unopar), das 6h30 às 12 horas, localizado na Rodovia Celso Garcia Cid, KM 377, ao lado do Catuaí Shopping. Cada secretaria municipal vai mostrar o resultado dos trabalhos realizados nos últimos 12 meses, decorrente das prioridades oriundas no Plano Plurianual (2010-2013) executadas e em execução. O evento será transmitido pelo www.londrina.pr.gov.br.

Fonte: Jornal de Londrina