Vereador Jacks Dias recebia R$ 80 mil mensais de propina, aponta nova denúncia


Dinheiro era pago pela empresa de vigilância Centronic, que presta serviços à Prefeitura de Londrina desde 2006. Dias era secretário de Gestão Pública na época em que o contrato foi firmado

A Promotoria de Defesa do Patrimônio Público investiga a denúncia de que o vereador Jacks Dias (PT) teria recebido propina da Centronic Segurança e Vigilância Ltda, empresa de vigilância que prestou serviços à Prefeitura de Londrina desde 2006, que teve o contrato rompido recentemente – ele ficaria em vigor até agosto deste ano. Dias era secretário de Gestão Pública na época em que o contrato foi firmado.

Segundo um dos denunciantes, que concedeu entrevista gravada ao JL, o pagamento seria de R$ 80 mil mensais, valor repassado pessoalmente pelo gerente da empresa em Londrina, Paulo Sérgio Iora, ao hoje vereador. Um desses repasses teria acontecido num jantar ocorrido na casa de Iora, entre agosto e setembro de 2008.

Essa é a segunda denúncia ligando o vereador a suposto recebimento de propina de empresas que prestavam serviços à Prefeitura de Londrina, na época em que ele era secretário de Gestão Pública. Em outro procedimento aberto pela Promotoria de Defesa do Patrimônio Público, ele é investigado sob a suspeita de ter recebido dinheiro da Setrata, outra terceirizada que prestava serviços ao município.

Além de ouvir pelo menos duas testemunhas – ex-funcionários da empresa que denunciaram o suposto pagamento de propina –, o MP cumpriu, na última sexta-feira, mandados de busca e apreensão na sede da empresa e na casa de Iora. Ele não esteve na empresas nem na residência quando do cumprimento do mandado de busca e apreensão e ainda não se apresentou para prestar depoimento no Ministério Público. A Promotoria de Defesa do Patrimônio Público não entrou em detalhes sobre o material apreendido. Confirmou apenas que os mandados foram cumpridos. O MP também não quis comentar os valores citados pela testemunha.

Dias não foi localizado ontem à tarde pela reportagem do JL. Ele não atendeu o telefone celular. No gabinete, uma assessora informou que o vereador estava em “atividade externa”. O teor da reportagem foi informado à assessoria do vereador.

O advogado João dos Santos Gomes Filho, que defende Dias no caso da Setrata, disse desconhecer “completamente” a nova denúncia. “Para mim é grande surpresa. Vou tomar conhecimento para depois me manifestar”, declarou.

O gerente da Centronic em Londrina não foi localizado pelo JL. Uma funcionária disse que Iora não se encontrava na empresa e pediu que a reportagem procurasse Nilson (o sobrenome não foi informado), o proprietário, na sede, em Curitiba. Uma funcionária informou que o proprietário não se encontrava na empresa. Nos dois casos o teor da reportagem foi adiantado para as empresas.

Informação nos corredores

A informação de que a Centronic supostamente pagava propina ao vereador Jacks Dias (PT) circulava pelos corredores da empresa, segundo informou um ex-funcionário, que concedeu entrevista gravada ao JL. Segundo ele, além dos comentários sobre o suposto pagamento de R$ 80 mil mensais ao então secretário de Gestão Pública, houve apoio eleitoral da empresa a Dias. “Ocorreram algumas reuniões dentro da Centronic para que todo mundo votasse no candidato Jacks Dias”, declarou a testemunha.

Ele disse que nunca viu pessoalmente o suposto pagamento da propina, mas que soube do jantar na casa do gerente da Centronic na cidade, Paulo Sérgio Iora, entre agosto e setembro de 2008, do qual o vereador participou. Depois desse jantar, Iora teria comentado que naquela reunião foi repassado dinheiro ao vereador. Segundo a testemunha, Iora dizia a interlocutores que, se mostrasse o que tem “de documentos”, ou falasse o que sabia, “cai prefeito, cai vereador, vai gente presa”.

Empresa declarada inidônea

Um mês depois de ganhar a licitação em Londrina, a Centronic Segurança e Vigilância Ltda foi declarada inidônea pela Prefeitura de Curitiba, condição que a tornaria impedida para contratar com o poder público. A inidoneidade, no entanto, só foi “descoberta” no final do ano passado – motivo pelo qual foi aberto o procedimento para a rescisão do contrato, concluído no começo de abril.

O contrato firmado em agosto de 2006, foi aditivado em 26 de março de 2007 e 13 de abril do mesmo ano, num momento em que a empresa já era considerada inidônea, e por isso, não poderia contratar com o poder público. A empresa venceu o pregão presencial 51/2006. Para vencer, a empresa apresentou a proposta de R$ 346.747,70. Nos quatro anos que o contrato poderia ter durado, o valor total chegaria a R$ 16,6 milhões.

A empresa era responsável pelo sistema de alarme monitorado em cerca de 230 pontos e por 60 vigilantes divididos em 34 órgãos públicos.

Fonte: Jornal de Londrina