Gerente admite que Centronic pagou a Dias


“Ajuda para campanha” de petista foi confirmada em depoimento ao Gaeco

O gerente da Centronic em Londrina, Paulo Sérgio Iora, admitiu, em depoimento prestado ao delegado Alan Flore, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que a empresa fez pagamentos ao hoje vereador Jacks Dias (PT). Mas declarou que o recurso repassado – ele disse não saber o valor – seria uma “ajuda para a campanha (eleitoral)”. No depoimento, Iora disse “não ter conhecimento dos pagamentos feitos pela Centronic [a Dias]”, mas ressalvou que ouviu recentemente do dono da empresa, Nílson Godoes, sobre a “ajuda para a campanha”.

O gerente da Centronic em Londrina declarou ter ouvido do dono da empresa que houve ajuda, mas segundo ele, não houve referências a valores e nem a quantas vezes a “ajuda” foi dada.

Documentos

Iora também foi questionado sobre os documentos encontrados em sua casa, no começo do mês, durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão. Os documentos “fazem referência a valores pagos por fora à Prefeitura”, mas Iora disse que “não tem conhecimento do teor dos documentos” que estavam na sua casa. Segundo ele, esses documentos foram guardados a pedido de um gestor da Centronic chamado Vilson (ele não citou o sobrenome), que trabalha em Curitiba, na sede da empresa. No depoimento, Iora diz que “se prontificou a realizar um favor para a empresa”, embora desconheça o conteúdo dos documentos.

Além da casa de Iora, o mandado de busca e apreensão foi cumprido na sede da Centronic em Londrina.

O delegado Alan Flore informou ontem que pretende ouvir Nílson Godoes no inquérito que investiga a denúncia de que a Centronic teria pagado propina a Dias. “Ele vai ser ouvido oportunamente, no decorrer das investigações”, declarou.

Procurado pelo JL, o vereador Jacks Dias negou ter recebido dinheiro da Centronic para a campanha eleitoral. “Não tem nenhum registro na minha campanha, não me ajudaram. E nem deram dinheiro para o partido”, argumentou Dias. “A única coisa que fizeram foi que abriram as portas, mas eu fiz campanha com os vigilantes de várias empresas, não foi exclusivamente com os da Centronic”, completou.

Advogado dá explicações

Paulo Sérgio Iora foi procurado pelo JL para dar entrevista sobre o caso, mas não foi localizado. O advogado dele, Luciano Menezes Molina, disse que seu cliente ouviu do advogado de Nilson Godoes sobre o pedido de propina. “Ele não sabe dos pagamentos, ouviu falar que o Nilson seria amigo do vereador e que teria ajudado. Não sabe quem fez, como foi feito e nem quanto foi. Ele é um técnico operacional”, declarou o advogado. Com relação à guarda dos documentos, Molina afirmou que seu cliente “fez um favor para o patrão dele”.

Quanto à testemunha que prestou depoimento no MP, dando início às investigações, Molina disse se tratar de “inimigo pessoal” do seu cliente, que “tem uma vingança pessoal” contra Iora. “O valor probatório desse depoimento não é considerado no processo penal. Esse cidadão é inimigo pessoal do Paulo Iora”, concluiu. O motivo da inimizade, segundo ele, foi a demissão da testemunha. “Ele ameaçou o Paulo Iora de morte na frente de funcionários”, concluiu.

Empresa teria pago propina para manter contrato

O hoje vereador pelo Jacks Dias (PT) era secretário de Gestão Pública na época em que a Centronic foi contratada, durante a gestão do ex-prefeito Nedson Micheleti (PT). De acordo com o depoimento prestado por uma testemunha ao Ministério Público, Dias receberia propina da empresa para manter o contrato, que recebeu mais de 20 aditivos até ser encerrado. A testemunha, que também concedeu entrevista ao JL, mas pediu para não ter o nome divulgado, falou em R$ 80 mil. O caso é investigado pela Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

A Centronic ganhou uma licitação para prestar o serviço de vigilância à Prefeitura de Londrina em agosto de 2006. Um mês depois, a empresa foi declarada inidônea pela Prefeitura de Curitiba, o que a impediria de contratar com o poder público. A declaração de inidoneidade só foi descoberta em fevereiro deste ano e foi o motivo pelo qual a Prefeitura rompeu o contrato, em abril – o contrato venceria em agosto.

Fonte: Jornal de Lonrina