E o fazemos de baixo para cima a ponto de nos tornarmos, hoje, uma central sindical de base. Por que? Estimulamos o debate interno, de baixo para cima. Respeitamos as decisões e as afinidades politicas e ideológicas dos sindicatos filiados, a partir de encaminhamentos formais, debates, seminários e muita troca de ideia.
E não poderÃamos ser diferentes ao longo destes três anos. Pois a UGT surgiu, é bom sempre lembrar, da união de três grandes centrais, a CAT, a SDS e a CGT, com a participação de lideranças respeitáveis que vieram da Força Sindical e de sindicatos independentes.
Revertemos com a UGT uma triste tendência do movimento sindical brasileiro e mundial de se fragmentar. Emergimos fortes no discurso da unidade e a cada dia nos tornamos cada vez mais fortes ao respeitar na prática essa unidade, o que exigiu e exige uma vocação democrática que ainda não encontra paralelo no movimento sindical brasileiro.
Nossa vocação democrática avança muito além dos procedimentos que estimulamos e dos discursos que nossas lideranças reafirmam a cada intervenção. Vamos além ao tratarmos a democracia como um princÃpio civilizatório.
É por isso que diante das situações constrangedoras que o governo cubano tratou seus presos polÃticos, fomos a única central sindical brasileira a nos posicionar. Respeitamos, como é nossa vocação, o governo cubano, mas exigimos em manifestações diretas que os direitos humanos destes presos fossem levados devidamente respeitados, que se evitassem as mortes em consequência das greves de fome e, principalmente, que se respeitasse a opinião pública brasileira e mundial.
Muitos companheiros e companheiras, vinculados à s demais centrais, não entenderam nossa posição. Mas insistimos porque defendemos tanto nosso direito como o das demais centrais sindicais em manifestar suas posições politicas e ideológicas. Hoje, com a libertação destes presos polÃticos, a opinião pública brasileira e, até mesmo muitas lideranças sindicais que nos criticaram, percebem o acerto da nossa posição.
Recentemente, as demais centrais organizaram a 1a. Conferência da Classe Trabalhadora. A partir de uma avaliação de baixo para cima, como consta de nosso Estatuto e do nosso DNA democrático, a UGT decidiu não participar. As razões tinham e têm a ver com a independência da UGT em relação aos partidos polÃticos, candidaturas e ideologias.
A decisão da UGT foi, mais uma vez, acertada e se comprova, agora, quando se ampliam as mobilizações em torno das próximas eleições quando o Brasil, seus cidadãos e trabalhadores decidirão quem ocupará os cargos de Presidente, Senadores, Deputados Federais e Estaduais.
Recebemos os três principais candidatos à presidência, Dilma Rouseff, representada pelo deputado federal Aldo Rabelo (PCdoB), Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB).
Atitude polÃtica dos presidenciáveis que confirma a UGT como uma das principais interlocutoras para se discutir, profundamente, as reformas necessárias para o Brasil, independente de quem venha a ser eleito.
Aproveitamos a oportunidade e apresentamos o documento “O Brasil que nós queremos”. No qual destacamos vários pontos, que já estão em andamento em nossa mobilização unitária junto com as demais centrais.
Pois a independência e a democracia, sem alinhamento automático, é que nos habilita junto à s nossas bases e junto à opinião pública, a dar continuidade à s negociações a favor da manutenção e ampliação da valorização do salário mÃnimo. Sim, já estamos mobilizados para um novo mÃnimo de R$ 570,00.
Continuamos, com as demais centrais, prontos para a redução da jornada para 40 horas semanais, sem redução de salários e com controle rÃgido das horas extraordinárias.
Já conseguimos que o Brasil assinasse na Organização Internacional do Trabalho, a Convenção 151, que normatiza as relações de trabalho na administração pública, em especial, no que diz respeito ao direito de organização, e prevê garantias à s organizações de trabalhadores do setor público, bem como estabelece parâmetros para a fixação e negociação das condições de trabalho, para a solução de conflitos e para o exercÃcio dos direitos civis e polÃticos.
Em três anos consolidamos na prática o tão sonhado pluralismo sindical, tantas vezes proposto em discursos mas que tropeçava no momento de se costurar as grandes decisões polÃticas que, infelizmente, ainda estimulam o alinhamento, as decisões de cima para baixo, os acordos de bastidores em vez da transparência que toda decisão democrática nos impõe.
Chegamos ao terceiro ano. Avançamos para mil sindicatos filiados, ainda em 2010. E nos preparamos para o 2o. Congresso da UGT. Previsto para o próximo ano, conforme determina nossos Estatutos. Temos pelo meio do caminho as eleições gerais, das quais surgirá um novo presidente (homem ou mulher), e que se amadurecerão, também, as estratégias adotadas para gerenciar e superar a terrÃvel crise financeira que ameaçou nossa economia.
Os desafios são enormes. Mas venceremos um a um, com mobilização, troca de ideias e reafirmando e respeitando os ideais de cada um dos trabalhadores, sindicatos e cidadãos que têm o Brasil como parâmetro.
Nossa grande bandeira a favor do futuro do Brasil, dos nossos filhos e das próximas gerações é estimular a Revolução na Educação. Foi por isso, que ao formalizar nossas posições para todos principais candidatos à presidência, aproveitamos para mobilizar o melhor do Brasil para construir o nosso futuro. E sabemos que por ser a Educação um ponto de estrangulamento de nosso futuro, se transforma também em consenso polÃtico para mobilizar as forças vivas da Nação.
Que é cada vez mais uma Nação civilizada, que aposta de verdade nos procedimentos democráticos e que repudia, por ser inoperante, o alinhamento partidário, ideológico ou religioso.
Porque a UGT é assim, antenada com o Brasil e com os brasileiros, uma central que surgiu da união de pontos de vista e de práticas sindicais plurais, sociais e polÃticas e que só cresce tanto por respeitar a diversidade, as culturas, etnias, religiões e regionalismos.
Estamos, todos, democraticamente de parabéns.
Ricardo Patah, presidente nacional da UGT