O triste retrato da saúde pública do Brasil


O assassinato de uma funcionária pública, que prestava serviços para a Secretaria Municipal da Saúde, do município de Correia Pinto, Santa Catarina poderia ser mais um de centenas que ocorrem no dia a dia por este Brasil a fora.

Porém, as circunstâncias que envolveram esse crime é que nos deixa perplexos. Ele foi praticado por um aposentado de 65 anos, revoltado pelo descaso do sistema de saúde para com os pacientes da pequena cidade, distante a 225 km de Florianópolis.

Cansado de procurar a unidade de saúde em busca de solução para seu problema e, sentindo-se humilhado diante da burocracia e da falta de respeito, o cidadão resolveu fazer justiça com as próprias mãos.

É profundamente lamentável, mas esse episódio nada mais é do que o retrato fiel da calamidade em que se encontra a saúde pública no Brasil. Demora no atendimento, pouco caso para com os munícipes e o péssimo serviço prestado continuam a ser “marcas registradas” desse atendimento prestado pelo setor público, seja ele na esfera municipal, estadual ou federal. Condenamos veementemente a atitude do aposentado.

A funcionária em questão é uma trabalhadora e muitas vezes ela não tem culpa alguma pela situação em que se encontra o sistema a que trabalha. Provavelmente a servidora apenas cumpria ordens superiores.

É comum encontrar em repartições públicas cartazes com avisos alertando que desacatar funcionário público é crime. Só que no caso de Correia Pinto, é preciso averiguar para saber se a dita funcionária vinha atendendo com dignidade o aposentado e, até que ponto chegou o nível das conversas para fazer com que o paciente registrasse ocorrência policial, fosse até sua casa, pegasse um revólver para depois chegar a esse ponto. Depois de cometer o assassinato o aposentado justificou ter agido em defesa do povo. Disse não agüentar mais a forma indigna como o povo vem sendo tratado por aquela repartição.

Como estamos em ano eleitoral, seria interessante que os candidatos, sejam a níveis majoritários ou proporcionais, guardassem esse fato para, quando eleitos, se preocuparem mais com a saúde pública.

Independente disso, é preciso que, da mesma forma que a polícia civil vai apurar as causas desse homicídio, que a prefeitura de Correia Pinto se utilize dos mecanismos necessários para ver onde estão as falhas desse sistema.

Encontrando-as é de vital importância que essas lacunas sejam sanadas para que no futuro a cidade não venha a ser palco de cenas tão deploráveis como essa que resultou na perda de uma trabalhadora e na destruição da vida de um aposentado pois, caso venha a ser condenado, poderá cumprir pena de até 20 anos de reclusão.

*Ricardo Patah é o presidente nacional da União Geral dos Trabalhadores (UGT)