KPC preocupa plantonistas da Acesf


Hospitais não comunicam casos em que vítimas estariam colonizadas

Os hospitais de Londrina não estão comunicando à Acesf as mortes por doenças infectocontagiosas ou cujos corpos estejam colonizados por bactérias perigosas, como a multirresistente Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC). Segundo os plantonistas da Acesf, a falta de informação pode por em risco a saúde a equipe que manuseia o corpo e também dos familiares e participantes do velório. Em casos desse tipo, dizem, o caixão deve ser lacrado para evitar a disseminação da doença.

Pelo menos cinco corpos colonizados pela KPC passaram pela Acesf nos três primeiros dias de novembro, três deles oriundos do Hospital Universitário (HU) de Londrina. Segundo o assessor técnico da Acesf, José Roberto Damiano, todos os grandes hospitais da cidade – HU, Evangélico, Santa Casa e até Hospital do Câncer – já encaminharam corpos colonizados com a superbactéria. “Mas a gente fica sabendo por acaso, quando é informado pelos parentes que o falecido estava no isolamento ou até na hora de pegar o corpo no hospital. É raro acontecer uma comunicação formal, no momento em que somos avisados para buscar o corpo”, afirmou.

De acordo com Damiano, a comunicação serviria para que os plantonistas redobrassem os cuidados quando fossem buscar os corpos. “Além disso, também tomaríamos mais cuidado com o caixão, que deveria estar lacrado e sem contato com as pessoas”, explicou.

Ele reclama que não há uma orientação técnica nem dos hospitais nem da Vigilância Sanitária ou de qualquer outro órgão sobre as formas de manuseio, perigos e cuidados que devem ser tomados, especialmente com a KPC. “Para mim, parece uma questão de saúde pública. Afinal, nem sabemos se os cuidados que tomamos são eficazes, se estamos em risco ou não. No auge da Gripe A, fomos orientados. Agora, nada”, disse.

A diretora de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, Sandra Caldeira, disse que não há nenhum protocolo do Ministério da Saúde ou da Secretaria de Estado de Saúde sobre cuidados com a KPC, depois que a pessoa morreu. Por isto, os hospitais não estariam obrigados a fazer a comunicação. De acordo com ela, não há nenhum estudo sobre riscos de contaminação pós-morte. “Pode ser que, mais para frente, apareça algum. Por enquanto, não temos nenhuma recomendação para repassar. Se surgir algo, como aconteceu com a Gripe A, vamos orientar”, afirmou.

Máscaras, aventais e luvas descartáveis

Segundo a diretora de Epidemiologia, Sandra Caldeira, na manipulação dos corpos colonizados os funcionários da Acesf devem tomar mesmos cuidados que tomam com qualquer outro corpo. “Eles devem usar sempre os EPIs (equipamentos de proteção individual), como máscaras, aventais e luvas descartáveis”, disse. Quanto ao caixão lacrado, ela não soube precisar se era ou não necessário. Porém, de acordo com a superintendente do HU, Margarida Caldeira, lacrar o caixão é uma medida inócua no caso da KPC.

Segundo Margarida, a bactéria não é perigosa para quem está saudável e só haveria risco se uma pessoa muito debilitada tocasse no corpo, já que a transmissão ocorre por contato. “Infelizmente, o brasileiro tem mania de acariciar o corpo durante o velório. Mesmo assim, é só lavar bem as mãos depois”, afirmou.

Na Vigilância Sanitária, nem coordenador, gerente ou diretor foi encontrado para falar sobre o assunto. Segundo uma funcionária, que preferiu não se identificar, ela desconhecia se havia um protocolo em relação aos cuidados necessários em relação à KPC.

Afora o HU, os demais hospitais de Londrina não confirmam casos de morte em que a vítima estaria colonizada por KPC. O Hospital Evangélico confirmou apenas seis casos registrados, dos quais dois continuariam contaminados e a Santa Casa alega que apenas um paciente teria chegado com a bactéria em setembro, mas que já teria sido liberado. A reportagem não conseguiu falar com a diretoria do Hospital do Câncer.

Fonte: Jornal de Londrina