Pediatra de Londrina tem o menor salário da RML


Remuneração inicial é de R$ 2.805,98. Cidades menores, como Ibiporã, Cambé, e Rolândia, pagam melhor os especialistas no atendimento à criança

Qual deve o salário de um médico pediatra? A resposta para esse questionamento tem colocado em rota de colisão a Secretaria Municipal de Saúde e os profissionais dessa especialidade. Enquanto para o Município o trabalho de um pediatra vale R$ 2.805,98 (iniciantes no serviço público) para a Sociedade Brasileira de Pediatria os vencimentos deveriam ser de R$ 8 mil para uma jornada de 20 horas semanais. O valor considerado “indigno” pela classe tem, segundo a SBP, levado os pediatras a se afastarem das unidades básicas de saúde e, o mais preocupante, estimulado a procura de emprego em outras cidades da região. Levantamento feito pelo JL em 7, das 11 cidades da Região Metropolitana, apontou que Londrina é quem oferece o menor salário para os pediatras.

Cidades menores, como Ibiporã (R$ 3.771,00), Cambé (R$ 3.900,00), Rolândia (R$ 5.304,00) e Bela Vista do Paraíso (R$ 6 mil), remuneram melhor os especialistas que fazem o atendimento básico infantil. O salário mais alto encontrado pela reportagem foi em Alvorada do Sul, onde o profissional recebe R$ 12 mil da Prefeitura, para uma jornada de 40 horas semanais.

A falta de médicos tem sido uma constante nos postos de saúde de Londrina, o que tem provocado a revolta da população. Um exemplo, foi a manifestação no início deste mês de moradores do Jardim União da Vitória, zona sul, pedindo pediatras para a UBS. O secretário de

Saúde, Agajan Der Bedrossian diz que faltam médicos porque não há profissionais disponíveis no mercado.

“Número suficiente”

Para o diretor da Sociedade Brasileira de Pediatria, Milton Macedo de Jesus, a “justificativa”, apresentada pela atual administração para o problema da falta de profissionais no mercado de Londrina é incorreta. Macedo diz que o número de pediatras na cidade “ainda” é suficiente para atender a demanda. “O que está faltando é pediatra que aceite receber uma remuneração indigna. Não estão faltando profissionais para atender no particular ou plano de saúde. Aviltamento dos salários os pediatras não aceitam mais. Os últimos concursos tiveram interessados, pelo menos 15, mas ninguém quis assumir pela baixa remuneração.”

Para o promotor de Defesa da Saúde, Paulo Tavares, o argumento do secretário de Saúde, Agajan Der Bedrossian, para a falta de profissionais “é muito simplista”. Ele afirma que conseguir médicos para atender nas unidades básicas não é “uma dificuldade absoluta”, mas que acaba sendo agravada pela baixa remuneração.

Tavares revela que uma auditoria do Departamento Nacional de Auditorias do Ministério da Saúde (Denasus) de 2009 identifica a baixa remuneração. Segundo o promotor, o relatório cita que “a carência de recursos humanos em algumas unidades de saúde, principalmente profissionais médicos, é de solução mais complexa e que envolve questões de mercado, pois a remuneração oferecida pelo sistema público é pouco atraente e dificulta a permanência do profissional na unidade”. “A falta de profissionais no mercado não é uma questão crucial e preponderante que nós temos observado e, sim, a baixa remuneração que faz os profissionais não terem interesse em ingressarem no sistema”, disse o promotor.

Medidas sem eficácia

O promotor de Defesa da Saúde Paulo Tavares diz que o Ministério Público tem acompanhado de perto o problema e questionado o Município sobre quais serão as soluções para o problema. Para ele, todas as medidas que Londrina vem adotando não estão sendo suficientes para atender a demanda, cada vez mais crescente.

Tavares também criticou a postura do gestor municipal que diz que na falta de profissionais nas unidades básicas de saúde os pais devem levar os filhos para o Pronto Atendimento Infantil (PAI). “Primeiro tem a questão da locomoção, que não é tão fácil assim. O Município não pode falar simplesmente para levar as crianças para a área central. Os usuários do SUS são pessoas humildes que têm dificuldade até em transportar os filhos. Nós temos que valorizar as unidades básicas, que são a porta de entrada para o SUS. Você não pode obrigar as famílias a levar as crianças para o PAI.”

Para o diretor de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Pediatria, Milton Macedo de Jesus, se o Município não reajustar os valores dos salários, equiparando os ao que são praticados no sistema particular, “pode fazer quantos concursos quiser, mas a situação não melhorará”. “Remuneração indigna desestimula o trabalho desses profissionais. Não queremos nada de exagero, queremos apenas o que é justo.”

Saúde não sabe como solucionar a falta de pediatras clínicos em curto prazo

A medida emergencial apresentada pela Secretaria Municipal de Saúde para a falta de médicos nos postos de saúde foi a criação de seis novos cargos de pediatras plantonistas. De acordo com o secretário Agajan Der Bedrossian, as vagas estão “disponíveis” e eram destinadas para clínicos plantonistas. A mudança foi aprovada pela Câmara de Vereadores. “Estamos contatando os pediatras que fizeram há dois anos o concurso para o cargo para ver se há interesse em assumirem a vaga. Serão seis novos profissionais, que se conseguirmos preencher as vagas atenderão mensalmente 3.500 consultas”, explica.

Questionado sobre o motivo dos salários pagos em Londrina ser o menor encontrado pelo levantamento do JL, o secretário argumenta que não há como fazer uma comparação. “Temos 74 médicos que atendem a toda a rede municipal, como Maternidade, PAI e UBS, se as 16 vagas que estão disponíveis para clínicos forem preenchidas teremos 90 profissionais. É um número significativo.” Agajan ainda declara que a fórmula para se chegar ao salário dos pediatras leva em consideração todo o custo do sistema de saúde. “Estamos preocupados com os salários, mas para o número de profissionais que temos, é preciso levar em consideração todo o custo da saúde. Sem contar, ainda, que atendemos muitas crianças de cidades da região no PAI.”

Essa informação do secretário também foi confirmada durante a realização do levantamento. A cidade de Tamarana, a 60 quilômetros, não possui médicos pediatras. Segundo a prefeitura, os casos mais simples são atendidos por clínicos gerais e os casos mais graves são transferidos para Londrina.

Fonte: Jornal de Londrina