Escassez crônica


Falta de médicos na rede municipal é generalizada. ‘Rodízio’ para atendimento nas UBSs é prática comum

Médicos da rede municipal de saúde estão revoltados com as dificuldades enfrentadas diariamente nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de Londrina. A falta de profissionais está pondo em risco o atendimento e a saúde dos pacientes e até dos plantonistas, que estão fazendo mais horas extras do que são capazes de suportar. Segundo os médicos, além de pediatras – como foi denunciado recentemente pelo JL – faltam também ginecologistas e clínicos gerais. “A escassez de médicos é bem maior que o divulgado”, afirmam.

Segundo um dos médicos plantonistas, que entrou em contato com o JL e pediu para não ser identificado, a Secretaria Municipal de Saúde, usa, com frequência, a “artimanha” de espalhar os poucos médicos por várias UBSs, onde cumprem meio período em cada uma. Isto, segundo ele, acontece com ginecologistas, pediatras e clínicos gerais. O número de ginecologistas é ainda menor que o de pediatras, garantiu. “Exames preventivos e de pré-natal vem sendo realizado em várias unidades exclusivamente por enfermeiras”, denunciou.

É constante também, de acordo com ele, a falta de médicos plantonistas clínicos gerais nas unidades de Pronto-Atendimento (no PAM, UBSs do Jardim Leonor, do Maria Cecília e do União da Vitória). Nestes, os profissionais estariam realizando uma carga abusiva de horas extras, “fato que obviamente prejudica a qualidade do atendimento”, disse. Segundo o médico, é impossível conseguir atendimento no Maria Cecília, aos domingos após as 13 horas, às segundas e quartas feiras após as 19 horas. “Se for verificar a escala médica dos outros PAs, a situação é semelhante”, afirmou.

Além disso, segundo ele, o número de equipes do Programa Saúde da Família (PSF) não bate com o número de médicos. “Obrigatoriamente cada equipe deve ser composta por um médico, fato que não ocorre na maioria da UBSs. Se não há médico na equipe e o mesmo não é substituído por um prazo de três meses, a equipe tem que ser desfeita”, afirmou. Segundo ele, a maior parte das equipes do PSF é terceirizada. “Para onde está indo o dinheiro? Por que a Prefeitura não municipaliza o PSF, já que saúde é área essencial e não pode depender de terceirizados?”, apontou.

A reportagem circulou por seis UBSs espalhadas por várias regiões da cidade e constatou que a falta de profissionais é realmente crônica. Em apenas uma das UBSs visitadas, havia um clínico geral atendendo o dia inteiro, além de um ginecologista e um pediatra atendendo meio período três vezes por semana. Em outra, um clínico e um ginecologista atendiam todas as manhãs. Nas outras, ou os clínicos atendiam de manhã ou à tarde; os ginecologistas, três vezes por semana em meio período e, em pelo menos uma das unidades, não havia pediatra nem ginecologista atendendo. Um funcionário da unidade, que pediu para não ser identificado, disse que a situação já se tornou crônica. “Os médicos estão debandando todos por causa do salário. Ninguém quer vir trabalhar no serviço público. Os que ficaram estão sobrecarregados”, afirmou.

Estão abertas 58 vagas

O secretário municipal de Saúde, Agajan Der Bedrossian, admitiu que faltam médicos nas UBSs, mas a situação não é tão calamitosa como parece. No total, segundo ele, o Município tem 457 vagas para médicos – incluindo cerca de 50 do Programa Saúde da Família (PSF) -, dos quais estão ocupados 399. “Nós temos apenas 58 vagas em aberto, das quais 22 são para clínica pediátrica”, disse. Segundo Agajan, é preciso fazer o “rodízio” dos profissionais para não deixar nenhuma das 52 unidades de saúde sem atendimento.

“A questão é de oferta e procura. Estão faltando profissionais no mercado”, afirmou. Os salários brutos, disse, não estão tão defasados. Segundo ele, hoje, um profissional da clínica médica (clínica geral, pediatria e ginecologia) recebe um salário bruto de R$ 2.779,50 por 20 horas semanais – quatro horas por dia, cinco dias por semana. Um plantonista recebe, por 24 horas semanais, R$ 4.522,69. Todos estes profissionais têm a opção de fazer duas horas extras por dia. “Se optar por isto, o profissional clínico irá recebe R$ 5.616,68 e o plantonista, R$ 7.185,05. Ou seja, não salários ruins”, afirmou.

Já sobre os médicos da PSF, o secretário afirmou que a falta deles é temporária, porque nos próximos dias deve ser resolvida a questão da empresa que substituirá o Ciap.

Como solução para os problemas nas UBS, Bedrossian afirmou que a secretaria estuda a contratação de seis plantonistas pediátricos, o que representaria mais 480 consultas/mês. Além disso, a Secretaria de Planejamento estaria estudando novas formas de contratação de médicos, por hora de trabalho. “Às vezes, o médico não pode fazer 20 horas, mas poderia fazer 10.”

Fonte: Jornal de Londrina