Falta de médicos deve se estender até o final de abril


Prefeitura de Londrina cancelou a licitação para contratação temporária e novo processo deve ser lançado só no começo do mês que vem; ontem, mães fizeram protesto contra demora no atendimento no PAI

O caos da saúde pública de Londrina, que sofre principalmente com a falta de médicos e foi agravado pela epidemia de dengue na cidade, deve se estender até pelo menos o fim de abril. Isso porque a licitação aberta para a contratação temporária de novos profissionais da área médica, prevista no "pacotão da saúde" aprovado pela Câmara de Vereadores no início de março, foi cancelada ontem. O secretário de Gestão Pública, Marco Cito, considerou “fracassada” a licitação e disse que um novo edital será lançado no início de abril. Segundo Cito, o problema ocorreu porque uma das empresas teria se negado a aceitar um prazo menor para o processo licitatório. “Vamos repetir o procedimento com nova publicação de edital, para que outras empresas possam participar”, afirmou.

Com o fracasso da licitação e a necessidade de abertura de um novo processo, Cito disse que os médicos devem estar à disposição do Município apenas no final de abril. “Os três maiores gargalos são ginecologia, clínica e pediatria”, lembrou o secretário.

Ontem, um protesto de mães que esperavam por horas para terem seus filhos atendidos no Pronto Atendimento Infantil (PAI) e uma reunião da administração municipal com moradores da zona oeste, que na terça-feira entregaram um abaixo-assinado com 8.365 assinaturas cobrando melhorias no atendimento (leia texto nesta página), voltaram a elevar a temperatura e evidenciar que a crise na saúde pública de Londrina está longe de ser resolvida. O protesto das mães ocorreu no começo da tarde. Elas fecharam a Rua Benjamin Constant, na esquina com a Mato Grosso, no centro, por cerca de uma hora.

O motivo do protesto: apenas um pediatra estava de plantão no local. Segundo funcionários do PAI, o mínimo necessário para dar conta da demanda era quatro médicos. Como resultado, longo tempo de espera. Antes da confusão, havia dois pediatras no local, mas um deles deixou a unidade porque, de acordo com a secretária municipal de Saúde, Ana Olympia, teria sido agredido. “Chegou para mim que ele sofreu agressão física”, afirmou.

Ana Olympia disse que os problemas da saúde municipal em Londrina são decorrência “de dificuldade na escala médica”. “Temos dificuldade e ela não é só de Londrina. O ministro da Saúde reafirmou a dificuldade de contratar médicos no Brasil”, explicou. Ela afirmou que “o PAI não pode ser o único serviço de Londrina”. Ana Olympia lembrou que os hospitais Zona Sul e Zona Norte também têm “dificuldades de escala” e isso sobrecarrega o PAI.

Mãe completou 24 horas de fila
Por volta das 15 horas de ontem, Lucimara Carvalho Pícoli completava 24 horas de fila na unidade, entre a terça e quarta-feira. Ela contou que chegou ao PAI às 8h20 de terça-feira, para levar a filha de 1 ano e 11 meses, que estava com febre. “Fui atendida à 1h da manhã de hoje [ontem] e saí daqui às 3h”, relatou Lucimara, que é atendente de padaria. Ela voltou ao PAI às 10 horas de quarta-feira para tirar um raio-X da filha, procedimento que não foi feito na véspera porque segundo ela ouviu de funcionários da unidade, o aparelho pára de funcionar depois da 1h.

Às 15 horas de ontem, com a senha de número 70 na mão, Lucimara completava 24 horas de fila e tinha mais 31 mães na frente (nesse horário uma funcionária chamou pelo alto-falante a senha 39 e informou que ela estava no PAI desde as 8h30). “Estou sem trabalhar. Atestado eles só dão na hora em que a criança é atendida. A alegação é de que há muita criança para pouco médico”, explicou. Outra mãe na fila de espera do PAI, Fabiane Tarelho, disse que chegou às 11 horas da manhã, para levar a filha para o atendimento. “Não falaram nada até agora”, afirmou.

Fonte: Jornal de Lodrina