Secretária confirma ingerência de Ana Laura


Ana Olympia prestou depoimento, ontem, na 3ª Vara Criminal

A primeira-dama, Ana Laura Lino, interferia nas nomeações de cargos comissionados da Secretaria da Saúde. Além disso, o prefeito Barbosa Neto (PDT) convocou a secretária de Saúde, Ana Olympia, para uma reunião em seu gabinete, na qual ela foi apresentada a uma entidade chamada Cruz Vermelha (a secretária não soube informar se era uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - Oscip, que poderia ser contratada pelo município ao final dos contratos com os institutos Gálatas e Atlântico, no começo de junho. O vereador Tito Valle (PMDB) também participou dessa reunião).

Essas foram as principais novidades surgidas durante o depoimento de Ana Olympia, a sexta testemunha ouvida ontem em audiência da ação da 3ª Vara Criminal, que investiga denúncias de irregularidades na execução do contrato da Prefeitura de Londrina com o Instituto Gálatas. O depoimento acabou por volta das 21 horas. A secretária não quis dar entrevista. Seu advogado, Paulo Nolasco, negou que ela tenha dado essas declarações no depoimento, mas a informação foi confirmada pelos advogados Petrônio Cardoso (que defende Marcos Ratto) e André Cunha (que defende o Gálatas) e pelo promotor Cláudio Esteves.

As informações que surgiram no depoimento de Ana Olympia são inéditas. Com relação à interferência da primeira-dama, um episódio narrado pela secretária foi a demissão de três diretores da Secretaria de Saúde, durante uma folga tirada pelo então titular da pasta, Agajan Der Bedrossian, entre o Natal e o Ano Novo. Na volta, Agajan não gostou das mudanças e deixou o cargo, assumido por Ana Olympia. A reunião na qual foi definida a demissão dos três diretores aconteceu na sala do secretário de Gestão Pública, Marco Cito. "Durante toda a primeira fase de depoimentos, não só hoje [ontem], vem se confirmando que a versão apresentada pelo meu cliente [Ratto] está se revelando. Há uma ingerência, uma interferência por parte da primeira-dama no sistema de saúde de Londrina”, declarou Cardoso. “Quase todas as testemunhas confirmaram isso e a secretária também”, reforçou.

O advogado do Instituto Gálatas, André Cunha, disse que “a secretária confirma que há ingerência da primeira-dama em questões relacionadas à saúde, especificamente no episódio que culminou no pedido de demissão de Agajan”. O advogado também relatou a reunião na qual foi apresentada a entidade Cruz Vermelha para prestar serviços em Londrina. Esse fato surgiu em uma pergunta feita pelo MP sobre por que em maio não havia solução para a substituição do Gálatas e do Atlântico. “Ela relatou que foi convocada para reunião no gabinete do prefeito, foi apresentada para o presidente de uma entidade. E essa entidade apresentada pelo prefeito foi referendada e apresentada pelo vereador Tito Valle”, relatou.

“Ninguém assume contratação”

Para o promotor Cláudio Esteves, a “surpresa” dos depoimentos prestados nas duas audiências realizadas até aqui, é que “ninguém assume a contratação dos institutos Gálatas e Atlântico”. “Ouvimos o Marco Cito, o Agajan Der Bedrossian, a Ana Olympia e os conselheiros e ninguém assume essas contratações”, declarou.

Outro fato citado por Esteves como “surpreendente”, é que a atual secretária de Saúde “relevou que no dia 20 de novembro, uma comissão integrada por ela e por todos os técnicos da Secretaria apresentou um parecer de que eles não tinham condições de avaliar as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips), portanto não tinham condições de contratar”. Mas elas foram contratadas. O promotor se disse “perplexo” porque nenhuma das testemunhas “dá a informação exata sobre de onde surgiu a determinação para a contratação dessas Oscips”.


Valle explica intermediação

O vereador Tito Valle (PMDB) confirmou ter apresentado a Cruz Vermelha ao prefeito Barbosa Neto (PDT) e que a reunião aconteceu no final do ano passado. Segundo ele, não se trata de uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), mas da entidade internacional. “Fui apresentado para um diretor da Cruz Vermelha Brasileira, que tem projeto de gestão de saúde e levei para conversar com o prefeito”, relatou Valle. De acordo com o peemedebista, essa reunião ocorreu no final do ano passado, quando estava sendo discutida a contratação de Oscips para prestar serviços.

O secretário de Governo, Marco Cito, que estava na Gestão Pública na época em que os diretores da Secretaria de Saúde foram exonerados, confirmou a reunião com a secretária de Saúde, Ana Olympia, mas negou que a primeira-dama, Ana Laura Lino, tenha participado dessa reunião. “Houve uma conversa quando houve a troca do diretor de recursos humanos. Eu intervim porque havia problemas técnicos, na agilidade do teste seletivo”, explicou Cito. Segundo ele, houve a decisão que “determinada pessoa não serviria mais”, mas tal decisão teve motivos técnicos.

"Conselho não é culpado"

O principal debate do segundo dia de audiência da Operação Antissepsia foi sobre a capacidade do Conselho Municipal de Saúde para definir a contratação dos institutos Gálatas e Atlântico. De acordo com uma das testemunhas ouvidas, Dona Rosalina Batista, militante de movimentos sociais e membro do conselho, o órgão fez uma “indicação”, que poderia ou não ser acatada pela Prefeitura. “O Conselho não é culpado”, declarou. O depoimento dela contradiz a tese de defesa da administração municipal, que diz que a contratação foi feita porque a Prefeitura não poderia contrariar uma decisão do Conselho. “Isso é conversa pra boi dormir”, reagiu Dona Rosalina.

Ela foi uma das seis testemunhas ouvidas ontem, na segunda audiência da ação penal que investiga denúncias de irregularidades na relação do instituto Gálatas com a Prefeitura. As outras testemunhas ouvidas ontem foram os conselheiros Júlia Miyamoto, José Luiz Camargo, o ex-secretário de saúde Agajan Der Bedrossian e a atual ocupante do cargo, Ana Olympia. Com as seis de ontem, já são oito testemunhas arroladas pelo MP ouvidas até aqui. Ainda faltam 12 – duas prestarão depoimento por carta precatória – e cerca de 40 testemunhas arroladas pelos 11 réus. A próxima audiência está marcada para o dia 4 de agosto. Já na ação que foi desmembrada com relação a quatro réus, a audiência está marcada para o dia 27 de julho.

Fonte: Jornal de Londrina