Chefe de Gabinete e diretor se calam em depoimento


Seis pessoas foram ontem ao Gaeco, que apura suposto esquema de compra de voto de vereadores

O chefe de Gabinete da Prefeitura de Londrina, Rogério Lopes Ortega, e o diretor de Participações da Sercomtel, Alysson Tobias de Carvalho, são suspeitos de participação no suposto esquema de ''compra de votos'' de vereadores comandado por pessoas ligadas ao prefeito Barbosa Neto (PDT). O entendimento é do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que investiga o caso. Intimados para prestar depoimento, os dois estiveram na sede do Gaeco - ligado ao Ministério Público (MP) do Paraná -, na manhã de ontem, mas mantiveram o silêncio diante do delegado Alan Flore. Os dois suspeitos deixaram o MP sem falar com a imprensa. 

O delegado não quis informar quais são os indícios e de que forma Ortega e Carvalho apareceram no material analisado até aqui, desde a prisão em flagrante por corrupção ativa do ex-secretário de Governo e coordenador da campanha do PDT, Marco Cito, e do empresário Ludovico Bonato. O advogado João dos Santos Gomes Filho alegou que os clientes ficaram em silêncio porque ele ainda não sabe quais são as provas colhidas pelo Gaeco. ''Não posso orientá-los a falar se eu não conheço o que foi produzido.'' Segundo o delegado do Gaeco, diante do sigilo de parte das provas, ''somente o juiz poderá franquear o acesso da defesa a esses elementos durante a investigação''. 

O advogado evitou comentar as acusações feitas pelo vereador Amauri Cardoso (PSDB) de que Ortega e Carvalho teriam participado da tentativa de suborno, que o vereador alega ter sofrido de Cito e Bonato para votar pelo arquivamento da Comissão Processante (CP) da Centronic. ''O silêncio deles não tem nenhuma relação com isso, eles sempre vão negar o envolvimento.'' 

Gomes Filho, que entrou com pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná para tentar a liberação de Marco Cito, comentou ainda que teria havido um equívoco na manutenção da prisão preventiva do ex-secretário. Ele alega que o dinheiro utilizado para pagar a suposta propina estava na posse do vereador Amauri. ''Em que pese isso, a juíza que converteu o flagrante do Cito e do outro moço (Bonato) em preventiva disse, equivocadamente, que o dinheiro foi apreendido na mão do Bonato. É uma erro que prejudica o Cito, fazendo do delatante o bom moço.'' 

Fábio Reali 

O secretário de Gestão Pública, Fábio Reali, também foi chamado pelo Gaeco e demonstrou nervosismo ao deixar o local, após o depoimento que prestou na condição de testemunha. Durante entrevista coletiva, ao ser perguntado se sabia de eventual assédio de vereadores por parte de integrantes do Executivo, ele negou e desabafou. ''Sou funcionário de carreira do município há quase 25 anos e, como gestor, passaram pela minha mão orçamentos na casa de R$ 1 bi e hoje o meu patrimônio se resume a um Fiat Uno financiado e pago aluguel. Não aceito qualquer pecha de corrupção, de ladrão e trato isso como um desabafo.'' 

Roque Neto 

O vereador José Roque Neto (PR), que deveria depor na quarta-feira e pediu para ser ouvido ontem, disse que o delegado Alan Flore quis saber sobre ''questões técnicas'' envolvendo a tramitação dos projetos do Executivo de remissão das dívidas da Unopar e da manutenção da Lei da Muralha, ambos citados por Amauri, quando denunciou a suposta tentativa de suborno. ''Eu creio que em nenhum momento o meu nome foi citado nas investigações.'' 

Também estiveram na sede do MP, prestando depoimentos, na condição de testemunhas, Izídio Botelho, presidente da Cooperativa dos Trabalhadores Autônomos de Londrina, e Marcos Defreitas, presidente do PHS local, mesmo partido do vereador Eloir Valença, que demonstrou em diversos momentos estar se aproximando da administração municipal, contrariando a recomendação da sigla. 

O delegado Alan Flore confirmou que o prefeito Barbosa Neto deu retorno ao ofício enviado pelo Gaeco e agendou o depoimento para a próxima quarta-feira, às 14 horas, no próprio gabinete na prefeitura. No mesmo dia, também está marcado o depoimento do presidente da Sercomtel e presidente do PDT em Londrina, Roberto Coutinho Mendes. Ontem, procurado pela FOLHA, Coutinho disse que não tinha nada a declarar sobre o caso, se recusando a dar entrevista. 


Fonte: www.folhaweb.com.br