Profis fica para depois das eleições, diz novo prefeito


O novo prefeito de Londrina, Gerson Araújo (PSDB), deve sancionar o projeto de recuperação de dívidas tributárias (Profis) apenas depois das eleições. Foi o que afirmou ontem após tomar posse no cargo, em cerimônia no saguão da prefeitura que reuniu mais de uma centena de pessoas, entre servidores, lideranças comunitárias, representantes de entidades, vereadores e secretários nomeados pelo seu antecessor, José Joaquim Ribeiro (sem partido), que renunciou anteontem após ter sido preso por envolvimento em corrupção. Os pertences de Ribeiro foram retirados do gabinete ontem e entregues à família. 

O Profis está na Câmara há cerca de três semanas e foi a maneira encontrada por técnicos da prefeitura para arrecadar mais dinheiro e fazer frente ao deficit orçamentário de mais de R$ 40 milhões. Deve ser votado em primeira discussão nesta terça-feira e em segundo turno, na quinta-feira. Neste caso, deve seguir para sanção no próximo dia 28, mas o prefeito somente vai sancioná-lo a partir de 8 de outubro, depois das eleições. ''Tenho para sancionar até depois das eleições e é o que pretendo fazer.'' 

O entedimento é que, por ser candidato à reeleição como vereador, Gerson não poderia aprovar projeto prevendo abatimento de multas e juros, como o Profis. ''Não vou sancionar antes também para não me prejudicar, mas se for necessário, eu o farei.'' Também persiste a dúvida se, pelo fato de ter ocupado o cargo no Executivo, ele poderia ser diplomado, caso seja reeleito. 

O novo prefeito também deve deixar para depois das eleições eventuais mudanças no primeiro escalão. Segundo ele, até agora ninguém lhe pediu cargos na administração. ''Estão me dando uma trégua, mas acho que o assédio vai vir. Espero responder aquele que for correto.'' Ele reafirmou que irá manter os secretários escolhidos por Ribeiro, ''para não causar mais trauma'', pelo menos até as eleições. Apenas a chefe do Núcleo de Comunicação, Célia Baroni, exonerou-se e foi substituída pela jornalista Elza Caldeira, que era assessora de Gerson na Câmara. O prefeito manifestou interesse em levar outros funcionários do Legislativo para a prefeitura. ''Vou ter que pensar no meu staff, o grupo que trabalhava comigo na Câmara.'' 

Antes da entrevista, Gerson fez o discurso de posse, abordando ética e política. Citando poetas, estudiosos e a Bíblia garantiu que seu passado é limpo e que tratará com zelo a prefeitura em seus três meses de mandato. ''Quero procurar implantar a paz na cidade.'' 

O presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), Flávio Balan, em um rápido discurso também pediu ética. ''Londrina não varre a sujeira para baixo do tapete. A sociedade presta seu apoio, mas os senhores tomem cuidado. É preciso respeito com o patrimônio público e a segurança política da cidade'', afirmou ele, dando um recado direto a Gerson, ao novo presidente da Câmara, Rony Alves (PTB), e ao grupo de oito vereadores que acompanhou pessoalmente a cerimônia. 

Rony, em sua fala inflamada, prometeu uma ponte entre Legislativo e Executivo. ''Não uma ponte de barganhas ilícitas, mas um apoio para a cidade.'' O secretário estadual de Fazenda, Luiz Carlos Hauly, que disputou a Prefeitura de Londrina quatro vezes e nunca foi eleito, participou da cerimônia. ''O pastor Gerson é meu amigo há mais de 30 anos e estou à disposição para ajudar no que for preciso, do ponto de vista pessoal'', comentou, afirmando que não pretende indicar cargos na administração tucana de Londrina. 

Em entrevista, Gerson disse que ''espera mandar na prefeitura'', ao ser questionado sobre a influência de membros do partido, incluindo Hauly e o governador Beto Richa. ''Eu espero mandar, mas vou precisar do PSDB sim. O governador já prometeu que estaria à disposição e vou me consultar com aqueles que podem me ajudar. Vou trabalhar também com os demais partidos.'' 

O prefeito também disse que analisará a nomeação do filho da ex-secretária de Educação Karin Sabec para presidir o Conselho Fiscal da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), Daniel Sabec Viana, elemento que serviu de base para a prisão de Ribeiro, já que Karin é testemunha-chave no escândalo dos uniformes. ''Vou fazer uma análise e tudo aquilo que estiver errado e que eu sentir que contamina de alguma forma a administração, vou tomar providências na mesma hora. Tenho esse jeito calmo, mas quando a gente toma providências tem que ser pra valer.'' 

Por fim, ele disse que não irá interferir na campanha eleitoral, embora seu partido esteja apoiando a candidatura de Marcelo Belinati (PP). ''Só vou tentar deixar a prefeitura em condições para o próximo prefeito, seja ele quem for.''

Fonte: Folha de Londrina