Proibição de entrar em favela abre crise na Guarda


A Guarda Municipal foi proibida de entrar em favelas e enfrentar acusados de envolvimento com o tráfico de drogas, por determinação do secretário de Defesa Social, Raul Vidal. Conforme o secretário, a medida pretende evitar que os guardas, desarmados e sem rádio comunicador para chamar reforços em situações de emergência, morram nesses confrontos. “Não podemos trabalhar em ações para as quais não estamos preparados. Para abordar em favelas e para abordar traficantes, temos que ter pelo menos uma arma. Além de não ter uma arma, não temos radiocomunicador”, declarou. “Eu não quero herói morto, quero guardas vivos”, completou. Durante sua fala na Câmara Municipal, ontem à tarde, o secretário declarou que “bandidos de São Paulo estão agindo em Londrina” e que “não são pé de chinelo” (leia texto nesta página).

Guardas municipais se mobilizaram e foram ontem à Câmara para protestar contra a medida. O discurso deles era de que estaria ocorrendo o desmonte do Grupo Tático de Apoio em Motos (Gtam) em “retaliação” à realização de duas prisões realizadas ontem pela manhã, no Conjunto Antares (zona leste), de dois homens acusados de tráfico de drogas.

Conforme Fernando das Neves, presidente da Associação dos Guardas Municipais de Londrina, as prisões foram feitas na manhã de segunda-feira e a “destituição” do Gtam foi anunciado no final da tarde. “O Gtam foi criado por decreto e só pode ser destituído por decreto”, afirmou Neves, referindo-se à decisão do secretário. Segundo ele, não houve uma explicação oficial para a nova diretriz, apenas uma “determinação verbal”. “Alguns membros da Guarda estão com receio de retaliações”, completou. Para Neves, haveria uma “intenção de desestruturar a Guarda Municipal”.

Vidal negou retaliação e qualquer “intenção de desestruturar a Guarda”. Conforme o secretário, as motos do Gtam serão distribuídos para outros grupamentos para “agilizar o trabalho operacional”, com “muita ênfase às escolas”. Ele afirmou que pretende reforçar o viés de trabalho de proteção da Guarda Municipal aos bens públicos.
O secretário reforçou a argumentação de que se trata de uma medida para preservar os próprios guardas e disse que quem descumprir sua determinação será punido. “Como querem que eu permita que esses guardas peguem essas motos e entrem em favela totalmente desprotegidos? Eu não posso brincar de fazer segurança”, disparou.

Armas
Com relação ao problema do uso de armas pela Guarda, Vidal afirmou que o prefeito Gerson Araújo (PSDB) está tentando uma audiência com o governador Beto Richa (PSDB) para tratar da realização do curso. Decisão da Secretaria de Segurança veta a realização de um curso administrado pelas polícias Civil ou Militar, até que sejam cumpridos seis itens. O mais complicado, segundo informou o secretário, é a certificação do curso preparatório para o uso de armas, já que a Delmondes e Dias, empresa contratada pela Prefeitura para treinar a guarda, não está habilitada para isso, nem a PM pode fazê-lo, apesar de o curso ter sido ministrado por policiais militares.

Ataques
O secretário municipal de Defesa Social, Raul Vidal, disse ontem ter informações que teriam saído de dentro de um presídio de Foz do Iguaçu, de que o crime organizado do Estado de São Paulo teria ordenado ataques a policiais no Paraná. “A ordem veio por Foz do Iguaçu, de dentro da cadeia”, declarou Vidal, completando que não seria possível saber em que cidade paranaense seriam feitos os ataques. O secretário fez a declaração durante a entrevista coletiva. Antes disso, em plenário, Vidal afirmou que trabalha “com informações”. “Tenho as informações penitenciárias todas e sei que os bandidos de São Paulo estão agindo em Londrina e não são pé de chinelo”, declarou.

Fonte: Jornal de Londrina