O prefeito eleito de Londrina, Alexandre Kireeff (PSD), anunciou ontem mais oito nomes de sua equipe de governo e, na relação, surgiu o primeiro nome polêmico: trata-se do servidor público federal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Christian Perillier Schneider, 39 anos, escolhido para a Secretaria de Governo. No extenso currículo nos bastidores da política nacional, em Brasília, o futuro secretário municipal testemunhou negociações para liberação de emendas ao orçamento de 2005 para deputados federais do antigo PL (hoje, PR). 

  Em entrevista ao site Congresso em Foco, em setembro de 2006, Schneider explicou como foram liberados R$ 500 mil do orçamento da saúde para cada um dos 52 deputados do PL, presidido por Valdemar Costa Neto (que renunciou ao mandato quando foi acusado de participação no Mensalão). Nesta época, Schneider era assessor especial do ministro da Saúde, Humberto Costa. 

  A liberação das emendas teve relação com a chamada Máfia das Ambulâncias, conforme apuração da CPI das Sanguessugas, envolvendo 18 filiados ao PL. Alguns deles teriam recebido propina ao conseguir a liberação das verbas federais. 

  No entanto, Schneider, que entrou para a Abin por concurso em 1994, aos 21 anos, disse que não houve qualquer ilícito em sua participação no episódio. Pelo contrário. Afirmou que foi o autor da investigação sobre as Sanguessugas. ‘‘Quem fez a denúncia e quem presidiu a comissão que apurou o caso das Sanguessuas fui eu. Auxiliei o Ministério Público nas investigações’’, disse. 

  Quanto à liberação de emendas, disse que há sim barganha, mas, ‘‘é um procedimento legítimo’’. ‘‘No governo federal, todo mundo sabe, se libera emendas em troca de aprovação de projetos. É uma prática comum e legítima’’, afirmou. ‘‘Eu, particularmente, não concordo com ela. Não é a prática que vamos adotar aqui em Londrina.’’ Será ele o interlocutor entre o prefeito e os vereadores. 

  Schneider, que chegou a ser ministro interino da Integração Nacional por quatro meses no governo de Fernando Henrique Cardoso, disputou uma vaga na Câmara Federal em 2006, pelo PTB. Não foi eleito. Nesta campanha recebeu doação de R$ 10 mil de um colega da Abin, Nery Kluwe, acusado pelo Conselho Fiscal da Associação de Servidores da Abin de desviar recursos. ‘‘Ele foi inocentado e a doação ocorreu dentro dos parâmetros legais. Minhas contas daquele ano foram aprovadas.’’ 

  O futuro secretário de Governo de Londrina, que hoje não é mais filiado a partido, também já foi vice-presidente do Banco de Brasília. Ele nasceu no Rio de Janeiro, é casado com a jornalista e apresentadora de TV londrinense Vanessa Campos, que disputou uma vaga na Câmara Municipal de Londrina em 2012, pelo PTB. ‘‘Moro em Londrina desde o começo do ano passado, quando minha esposa voltou para cá por motivos familiares. Fiz a campanha com ela e conheço Londrina’’, afirmou. ‘‘Também ajudei na campanha do prefeito Kireeff, analisando dados estatísticos e estratégicos.’’ O último cargo de Schneider foi a assessoria para a senadora Kátia Abreu (PSD). ‘‘Vamos fazer um bom trabalho em Londrina, que é extremamente importante para o PSD nacional.’’ 

  Ao ser questionado sobre as relações de Schneider em Brasília, Kireeff disse que ‘‘isso não me preocupou porque ele tem uma carreira sólida no governo federal e jamais foi colocada em dúvida a lisura de seus procedimentos’’. 

  Falta ainda ao futuro prefeito escolher o presidente da Sercomtel, o superintendente da Caapsml, o controlador-geral e corregedor-geral. O Provopar, que é um cargo voluntário e normalmente ocupado pelas esposas dos prefeito, ainda não foi escolhido.‘‘Certamente minha esposa não vai ocupar o cargo.’’ Até agora, dois servidores municipais foram escolhidos para cargos no primeiro escalão. 

Perfil técnico 

  Os outros sete secretários anunciados ontem também têm relação direta com a função que vão assumir. Décio Gazzoni, escolhido para a pasta da Agricultura, é pesquisador da Embrapa e tem dezenas de trabalhos técnicos publicados; na Secretaria do Idoso a titular será Maria Inez Mazzer Barroso, pedagoga com especialização em gerontologia; o engenheiro Sandro Paulo Marques de Nóbrega irá responder pela Secretaria de Obras; para o Procon, Kireeff escolheu o advogado Rodrigo Brum Silva, que já foi presidente da comissão de Direito do Consumidor da Subseção de Londrina da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); para a Secretaria do Trabalho a escolha foi da psicóloga Kátia Marcos Gomes, especializaeda em gestão de recursos humanos; o assessor de assuntos de acessibilidade será Almir Escatambulo, formado em Ciências Sociais e militante de movimentos em favor das pessoas com deficiência. 

  O nome mais ligado à política, embora preserve o viés técnico, é o da professora da UEL Sônia Gimenez, que ministra disciplina sobre os aspectos ambientais da morte para os cursos de biologia, química, zootecnia e física. Ela é filiada ao PSDB e disputou o cargo de vereadora nas eleições de 2012, na chapa encabeçada por Marcelo Belinati (PP).