Gestão Kireeff ainda é incógnita


Ao completar 90 dias de mandato, hoje, o prefeito Alexandre Kireeff (PSD) ainda é uma incógnita. Nesses primeiros três meses ele enfrentou incêndios (e não foram poucos) em diversas áreas, como saúde, educação, na questão do lixo e da reciclagem, aumentou a passagem de ônibus, cobrou do governo do Estado isonomia com relação ao subsídio concedido ao transporte coletivo de Curitiba e “transferiu” a guarda municipal das ruas para os prédios públicos. O próprio prefeito já admitiu que a “surpresa é quando não acontecem surpresas na prefeitura” e que o principal desafio é apagar incêndios sem perder de perspectiva as políticas de longo prazo.

Kireeff não atendeu ao pedido de entrevista do JL para analisar os 90 dias, sob a alegação de que o balanço será feito na marca dos 100 dias de gestão, com a apresentação de números para toda a imprensa. Para especialistas ouvidos para analisar o início do mandato, há unanimidade em dizer que 90 dias é pouco para ter uma avaliação tanto sobre a gestão quanto sobre as sinalizações da nova administração para o futuro.

Modelo gerencial

Para o cientista político e professor universitário Mário Sérgio Lepre, apesar de algumas sinalizações, “ainda não está claro o modelo gerencial” pregado pelo prefeito em campanha. Ele citou como positivo a cobrança perante o governo do Estado para que Londrina receba um tratamento idêntico ao de Curitiba, que recebe subsídio para a passagem de ônibus. Lepre também ressaltou o clima de normalidade e de estabilidade política demonstrados até aqui – em contradição à instabilidade dos últimos quatro anos, com trocas frequentes de secretários e denúncias de corrupção, mas lembrou que isso é muito pouco.

“Normalidade é importante, mas essa normalidade tem que ser a regra. Como houve muita instabilidade recentemente nós nos desacostumamos, mas não podemos nos contentar com menos do que isso”, avaliou. Mas ainda é preciso pensar o longo prazo: “Não consigo ver [nada] de longo prazo, ainda não arriscaria [em falar nada sobre isso]”, ressaltou. Para o cientista político “não apareceu nitidamente o que seria o projeto de longo prazo da administração”, o que pode vir a acontecer na discussão do Plano Plurianual (PPA).

Cara do governo

Preocupação semelhante foi demonstrada pelo sociólogo e professor universitário Marco Rossi. Ele lembrou que esses primeiros meses são usados para “conhecer os trâmites da administração”, o que dificulta uma análise de longo prazo. Para Rossi, ainda não foi possível “ver nada com a cara desse governo”. Ele afirmou que não acredita que a gestão Kireeff apresente grandes mudanças ao longo do mandato. “Um perfil técnico administrativo que jurou chegar ao poder para estabelecer um pacto burocrático com a cidade do ponto de vista da lisura dos processos, da eficiência das ações, mas que na prática não funciona, a Prefeitura de Londrina está atolada num lamaçal há décadas”, analisou. Na opinião do sociólogo a gestão deve manter “o que já funciona na cidade”. “Eu não espero políticas públicas novas na saúde e na educação”, concluiu.

Fonte: Jornal de Londrina