DESPERDÍCIO - Prefeituras vivem apagão de capacidade técnica


As prefeituras brasileiras vivem um apagão de capacidade técnica nos seus quadros de servidores, problema que gera um enorme desperdício de dinheiro público em duas vertentes: dificuldade para obter recursos federais, cuja liberação é negada em razão de projetos mal elaborados enviados a Brasília, e interrupção de obras causada por falhas na etapa de planejamento. Esta é a conclusão que pode ser tirada de alguns números divulgados por órgãos públicos e entidades representativas nos últimos dois anos. 

No mês passado, o Tribunal de Contas da União (TCU) apresentou parecer prévio sobre as contas 

da Presidência da República em 2012. No relatório, consta que apenas 46% dos recursos direcionados a serviços de proteção social básica, através do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, foram empenhados. Entre os principais motivos para o não aproveitamento dos recursos, o TCU aponta o fato de que muitas propostas apresentadas pelas prefeituras não atenderam aos requisitos exigidos para o convênio. 

Outro número traduz a incapacidade técnica de grande parte das prefeituras brasileiras. Segundo estimativa do ano passado da Associação Brasileira de Municípios (ABM), entre 30% e 40% dos projetos apresentados por prefeituras ao governo federal eram rejeitados em razão de problemas técnicos. 

Eduardo Tadeu Pereira, presidente da ABM, diz 

que esta é uma das maiores preocupações da entidade. "O (ex-presidente) Lula 

já disse que, para ter dinheiro, tinha que ter projeto. Eu digo que para ter projeto tem que ter dinheiro primeiro. A maioria das prefeituras brasileiras não tem condições financeiras de manter equipes técnicas para fazer projetos", alega. 

De acordo com a Pesquisa de Informações Básicas 

Municipais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2011 apenas 31,98% dos servidores 

da administração direta das prefeituras brasileiras tinham curso superior. No Paraná, 

a proporção era um pouco melhor, já que 39,36% do pessoal tinha diploma universitário. 

A Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, através da Subchefia de Assuntos Federativos, informou que o governo federal vem desenvolvendo algumas ações para impedir que prefeituras percam recursos por falhas técnicas: oferta de projetos padronizados, principalmente nas áreas de saúde e educação; a Portaria nº 507, para simplificação da execução de convênios e obras; proposta de 48 escritórios em todo o Brasil em parceria com as associações de municípios para fazer projetos para as prefeituras. 

"Os principais motivos (para as prefeituras perderem recursos) são (problemas de) licenciamento ambiental, a falta de projetos, a qualidade dos projetos. Muitas vezes os projetos vão e voltam mais de cinco vezes", descreve Paulo Turato Miotta, assessor especial da Subchefia de Assuntos Federativos. 

A ABM informou que a partir do segundo semestre pretende manter nos estados equipes de apoio para elaboração de projetos. Eduardo Tadeu Pereira afirma que cursos de capacitação que já são disponibilizados, como o da Controladoria Geral da União (CGU), "oferecem capacitação nas suas respectivas áreas, e as prefeituras precisam de capacitação multidisciplinar".

Fonte: Folha de Londrina