Aviões da FAB transformados em táxis-aéreos para servir políticos


O uso de dois aviões da Força Aérea Brasileira para levar o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), sua noiva, parentes e amigos ao jogo do Maracan㠖 fato revelado pelo repórter Leandro Colon, na Folha de S. Paulo de quarta-feira (3) - é apenas o abuso mais recente dessas práticas, agravado pela insensibilidade do parlamentar diante das manifestações de rua.

Em seguida, veio a público que duas semanas antes o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fizera algo quase igual, ao decolar de Maceió para Porto Seguro (BA), a fim de que pudesse participar de um casamento da filha de um político de seu partido, na Praia de Trancoso.

Conta o jornalista Frederico Vasconcellos que um ministro da Aeronáutica, ainda durante o governo militar, fez chegar ao então general-presidente a insatisfação de seus oficiais com o tratamento que um ministro civil dispensava à equipe da FAB responsável pelo deslocamento de autoridades. O tal ministro civil era conhecido pela impontualidade, o que obrigava os militares a refazer sucessivos planos de voo.

Mas a gota d’água que gerou a reclamação ao presidente foi a companhia que o ministro escolheu para um traslado: duas jovens que, decididamente, não aparentavam pertencer ao staff ministerial.

O mais grave: durante o voo as convidadas trataram os oficiais e seus auxiliares como se comissários de bordo fossem e, pior ainda, reclamaram da qualidade dos serviços oferecidos porque não havia nenhuma bebida alcoólica disponível.

Do histórico de dezenas de abusos aéreos, o Espaço Vital recorda o caso de um ministro do governo João Batista Figueiredo que, voltando de New York, para o Brasil, deu uma ordem, antes da decolagem de um voo comercial da Varig, para que o voo fizesse uma "escala extra" em Brasília, a fim de que ele se livrasse da conexão em Guarulhos. Foi atendido, apesar dos protestos de uma centena e meia de passageiros.

A falta de transparência no uso de equipamentos públicos militares para finalidades no mínimo discutíveis - e abusos como esses acima relembrados - não são fatos novos.

A mesma Folha de S. Paulo já divulgou a tentativa da Marinha de evitar confirmar que helicópteros da Força haviam sido usados para transportar magistrados a um evento festivo em final de semana prolongado num resort no Rio de Janeiro.

Mais recentemente, o Superior Tribunal Militar não quis prestar maiores informações sobre o uso de aeronaves da FAB e helicópteros do Exército para transportar uma comitiva de mais de 30 pessoas, formada por ministros do STM, chefes de gabinete, oficiais auxiliares, assessores e convidados, em visita a fábricas de veículos militares e de material bélico em São Paulo e Minas Gerais -, programa que nada tem a ver com as atividades jurisdicionais da Corte.

No momento em que a sociedade cobra mais transparência, essas autoridades aparentemente preferem continuar nas nuvens, evitando pôr os pés no chão.

O mais grave, no contexto, é que as duas últimas tropelias foram protagonizadas pelo presidente do Senado e pelo presidente da Câmara dos Deputados. É a classe política que temos!

Fonte: Espaço Vital