Professores querem livros em sala de aula


Professores das escolas municipais afirmam que determinação da Secretaria Municipal de Educação contraria orientação do Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa (Pnaic) de deixar em sala de aula os livros de literatura infantil que são encaminhados pelo governo federal. Cada sala deveria manter um “Cantinho da Leitura” com os livros expostos e acessíveis para que as professores e crianças os utilizem na rotina de aula. No entanto, a Secretaria de Educação enviou circular determinando que as caixas de livros fiquem guardadas na biblioteca para que não se percam ou estraguem.

Mafalda Oliveira de Souza, diretora de uma escola municipal, não está entre os professores que reclamam da determinação, mas confirma que os livros ficam guardados. O professor, de acordo com ela, pega a caixa com os títulos e leva para a sala de aula para utilizá-los. Depois deve devolver a caixa. “A biblioteca tem a incumbência de fazer a conferência para evitar que os livros sumam”, diz.

O que pode parecer uma medida prudente, em escolas que enfrentam problemas com salas de aulas pequenas, bibliotecas que são utilizadas para contraturno e que não contam com uma pessoa responsável para que fiquem abertas o tempo todo, pode ser a diferença entre os livros entrarem ou não na rotina das crianças.

Uma professora que trabalha há 20 anos com alfabetização (ela não quis se identificar) afirma que guardar os livros em biblioteca, armários, sala do professor, descaracteriza o Pnaic. “Isso [orientação da secretaria de Educação] está dando muita confusão. Dessa forma não se tem livre acesso ao material. Em sala de aula, o acesso é bem mais fácil.”

Outra professora, que também preferiu não se identificar, confirma que a preocupação da secretaria é “conservar os livros e evitar que sumam”. Para ela, é preciso encontrar outras alternativas para evitar que os livros estraguem e sumam. “Isso acontece, realmente. Mas tem que deixar em sala de aula. Faz parte do processo de educação para a leitura, mostrar para a criança a importância de preservação do livro”, argumenta.

Resistência
A professora Vivian Maschio resistiu e as histórias de Ruth Rocha, Eva Funari, Ana Maria Machado, entre outros autores consagrados da literatura infantil – estão sempre ao alcance das mãos, olhos e imaginação dos alunos. O material é utilizado tanto pedagogicamente – leitura com posterior produção de texto, por exemplo – quanto por “puro deleite”, como afirma a professora, fundamental para desenvolver o hábito de ler. Entre uma atividade e outra, as crianças podem se deliciar com histórias e ilustrações encantadoras. Se os livros ficassem na biblioteca, essa rotina não seria possível.

Na escola da professora Vivian Maschio a biblioteca é utilizada para as aulas de contraturno. “É um lugar pequeno, não tem como entrar para pegar livro enquanto estão acontecendo as atividades de contraturno”, diz. Outro problema é a falta de pessoal na biblioteca para garantir que fique aberta o tempo todo.

Mesmo mantendo os livros em sala de aula, Vivian não tem condições de criar o “Cantinho de Leitura”, outra orientação do PNAIC. O espaço é muito pequeno. Problema de outras escolas da rede, também. Durante todo o período de aula, a professora mantém os livros em cima da mesa. Depois, os guarda no armário da sala.

Fonte: Jornal de Londrina