Problemas de saúde tiram docentes das salas de aula


Nina Gonçalves começou a dar aulas aos 23 anos. Depois de 17 anos foi obrigada a abandonar as salas de aulas e assumir funções administrativas em razão de problemas de saúde: começaram com uma depressão que a obrigou a tirar licença médica. A história de Nina não é única. É comum nas escolas ter pelo menos um professor afastado do trabalho. De acordo com o Núcleo Regional de Educação (NRE), atualmente 253 professores da rede estadual dos 19 municípios da base de Londrina estão de atestado médico. Estudo inédito no país realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) mostra que em um período de 12 meses, 51,9% de um total de 978 docentes da rede estadual de Londrina entrevistados se ausentaram de suas atividades por motivos de saúde pelo menos um dia. Destes, 111 ficaram afastados um total de 16 dias ou mais.

Os coordenadores da pesquisa “Pró-Mestre – Saúde, Estilo de Vida e Trabalho de Professores da Rede Estadual de Londrina”, professores do departamento de Saúde Coletiva do CCS Alberto González e Arthur Mesas explicam que o estudo foi desenvolvido entre agosto de 2012 e junho de 2013, e apontou como principais motivos de afastamento: problemas respiratórios (alergias, resfriados e gripes), osteomusculares (dores, fraturas e lesões em músculos, articulações e tendões). Já os afastamentos por longo período (16 dias consecutivos ou mais) foram gerados, principalmente, por problemas psicológicos, como depressão e ansiedade (24,7%), e cirurgias diversas (30%).

Principais doenças

A dor crônica foi apontada por 42% dos entrevistados, como o problema de saúde que mais os afetam. “Não temos como apontar ainda se a causa da dor crônica está na atuação como professor. Isso será determinado em análises mais aprofundadas. Mas já podemos dizer que muitos professores atuam em sala de aula com este problema”, diz Mesas.

A ansiedade aparece em segundo lugar (22,4%) e 14,7% referiram ter depressão diagnosticada por um médico. Ansiedade e dor crônica, segundo os coordenadores, apresentam prevalência superior à da população geral.

Outro dado que chama a atenção, segundo González, é o fato de um em cada quatro entrevistados terem problemas com a voz sempre ou frequentemente.

Os pesquisadores afirmam que a pesquisa não tem o objetivo de apresentar um veredito sobre a saúde e o estilo de vida de professores, mas de contribuir para a implementação de políticas públicas e a reflexão da sociedade.

González destaca que para pensar a qualidade de ensino é preciso focar o professor além de sua atividade profissional. “É necessário abrir os olhos para quem faz a educação e perceber que para além do professor existe uma pessoa”, alerta.

Duras condições de trabalho

Há 10 anos, a professora Nina Gonçalves, 49 anos, exerce outra função na escola. Ela foi afastada da sala de aula ao ser diagnosticada com Síndrome de Ménière (doença caracterizada por surdez, zumbido e vertigem). O barulho e o excesso de alunos em sala de aula são apontados por ela como os principais causadores. “Comecei a ter problemas em sala de aula com o barulho, chegava a ter desmaios”, conta. Até o diagnóstico preciso ela teve alguns atestados médicos por depressão e crises de labirintite. “Quando tive uma crise muito forte fui parar no médico e descobri que tinha perda auditiva. Como junto tinha tonturas achavam que era labirintite, mas era Síndrome de Ménière.”

Ela diz que sente saudades da sala de aula, mas para continuar sendo professora, na sua avaliação, a quantidade de alunos teria que ser menor e a arquitetura dos prédios escolares ser diferente. “Hoje, o som não tem como propagar, fica acumulado na sala e no corredor.”

Na pesquisa dos professores da rede estadual, a exposição a ruídos dentro da sala de aula foi apontada por 94,9% dos 978 entrevistados como um dos fatores que afetam o desempenho de suas atividades. Na sequência, 88,9% apontaram a falta de tempo disponível para o preparo das atividades e, 87,7%, o ritmo e intensidade de trabalho.

Sobrecarregados, os docentes ainda enfrentam dificuldades referentes às condições de trabalho. As piores apontadas pelos professores foram: remuneração (para 62,8% dos entrevistados); quantidade de alunos em sala de aula (68,4%). A infraestrutura predial (iluminação, ventilação, e outras) foi citada por metade dos professores como sendo entre regular e ruim.

Fonte: Jornal de Londrina