Escolas da periferia não conseguem professores


Todo ano o drama se repete: é praticamente impossível completar o quadro de professores na rede municipal, em Londrina. Essa realidade é enfrentada por escolas que ficam nas regiões mais distantes e com maior risco social. Catarina Almeida é diretora de uma delas, com 235 alunos. (prefere não identificar a escola e o bairro para evitar que fique ainda mais estigmatizada). O ano letivo praticamente acabou sem que ela conseguisse professores para contraturno e biblioteca no período da manhã. Os professores auxiliares e para contraturno no período da tarde, só chegaram em novembro. Para o período da tarde na biblioteca foi conseguido em outubro. E desde julho a escola não tem professor de educação física no período da manhã.

Consciente da dificuldade de garantir professores para as escolas mais distantes, a secretária de Educação Janet Thomas criou o padrão mínimo de funcionamento. A partir do próximo ano todas as unidades escolares, independentemente da localização, terão que ter professores de sala, de contraturno, auxiliar, biblioteca, laboratório de informática (para as que têm esse recurso de ensino) e de educação física. A quantidade é determinada pelo número de alunos (até 500 e acima de 500) e pelas necessidades específicas apresentadas pela direção de cada escola à Secretaria de Educação. Antes eram as escolas que determinavam o número de professores que precisavam e eram abertas as vagas solicitadas. Com isso, segundo a secretária, as escolas mais centrais tinham quadros supercompletos e as mais distantes e com risco social enfrentavam dificuldades para preencher o quadro.

Janet Thomas afirma que encontrou as situações mais diversas: escolas que contavam com cinco professores auxiliares; outras com onze professores fora de sala de aula (atuando em áreas administrativas); outras com seis professores com laudo (que não podem atuar em sala de aula), o que resultava em vários professores para xerox, enquanto outras não tinham nenhum para esta função.

Assim, os professores que estariam “sobrando” (de acordo com o padrão mínimo estabelecido) em determinadas escolas e os 609 contratados este ano serão obrigados a participar do concurso de remoção, que será realizado em dezembro. Eles escolherão as escolas entre as vagas determinadas pela secretaria. "Distribuímos para toda a rede. Achatamos a opção dos professores no centro para garantir as escolas da ponta", afirma.

Segundo Janet Thomas, faltavam 1.190 professores na rede municipal, a maioria nas escolas mais distantes e com risco social. Com a reorganização esse número caiu para 779. Já foram contratados 609 e com mais 170, de acordo com a secretária será possível fechar o quadro. 
O impacto também será sentido no pagamento de horas extras. No início do ano eram pagos R$ 1,2 milhão em horas extras. Escolas como a que tem 11 professores atuando em outras funções, não tinham professor em sala de aula, obrigando o pagamento de hora extra para suprir a necessidade.


Nas escolas de bairros com maior risco social, além da dificuldade de preencher o quadro, as equipes estão constantemente mudando, pois a maioria participa dos concursos de remoção para conseguir ir para unidades mais centrais. Na escola de Catarina Almeida, por exemplo, dos 20 professores, apenas 6 são mais antigos. Os outros entraram este ano. “Todo ano é essa dificuldade. Isso acontece porque muitos consideram aqui uma ilha, não fica perto de nada, têm medo de vir para cá. Mas isso é exagero, aqui é um lugar bom de trabalhar”, afirma a diretora. 

Fonte: Jornal de Londrina