Operário morre soterrado por soja


O operário Alexandre Aparecido dos Santos, de 34 anos, não resistiu à queda em um silo de armazenamento de soja e morreu soterrado em meio a toneladas de grãos. O acidente aconteceu ontem, por volta das 9 horas, na PR-445, perto do Distrito da Warta (zona norte de Londrina). 

O Corpo de Bombeiros teve muitas dificuldades para resgatar o corpo. A operação durou mais de três horas, pois foi necessário fazer uma abertura no silo para retirar parte da soja e depois retirar a vítima com a ajuda de uma corda. 

"Quando chegamos, a vítima estava toda coberta, com exceção das mãos. A dificuldade maior é que o ambiente não oferece nenhuma segurança, pois a soja desce afunilando", declarou a tenente Marynara da Rocha. 

Santos era de Sertaneja (Norte Pioneiro) e junto com outros seis amigos trabalhava havia dois meses na empresa como terceirizado. "Era um trabalhador sério", desabafou Rafael Neves de Moraes, que estava com a vítima na hora do acidente. 

"Estávamos dentro do silo para fazer uma espécie de limpeza. Ele caiu e começou a afundar. Tentei puxá-lo pelas mãos, mão não deu", lamenta Moraes, que só se salvou por conseguir agarrar um cabo de aço. "Falta segurança. A gente não usa nenhum cinto ou corda para trabalhar", denunciou. 

Policiais civis de Cambé estiveram no local. O delegado Jorge Barbosa instaurou inquérito para apurar as causas do acidente. "Há informações do encarregado dos trabalhadores de que não era fornecido equipamentos de segurança. Após o período do velório, vamos ouvir testemunhas e investigar se houve negligência ou imprudência", adiantou. 

Os representantes da empresa estavam no local, mas não deram entrevista. A reportagem também tentou contato por telefone durante a tarde, mas ninguém retornou a ligação. 

O silo onde ocorreu o acidente tem capacidade para armazenar cerca de 600 toneladas de grãos. No momento do acidente, o espaço não estava cheio, mas o volume armazenado foi suficiente para soterrar Santos. 

Em novembro do ano passado, pelo menos dois outros acidentes em silos ocasionaram mortes de funcionários no Paraná. Em Londrina, três trabalhadores morreram em decorrência das queimaduras causadas por uma explosão em um elevador de grãos de uma empresa em frente ao Parque Ney Braga, na zona oeste, e em Medianeira (Oeste), um trabalhador morreu soterrado em um silo de ração. 

O procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Londrina, Marcelo Adriano da Silva, informou que até ontem não havia nenhuma denúncia no órgão sobre o caso, mas que a morte deverá ser investigada. "Muito provavelmente houve o descumprimento das normas de segurança. Raramente um acidente ocorre por acaso", comentou. Sem mencionar o caso específico, o procurador expôs a falta da cultura da prevenção. "A vida humana deveria ser a primeira preocupação das empresas, mas geralmente o lucro fala mais alto", criticou. 

Silva explicou que em trabalhos em silos, o empregador deve cumprir as exigências da Norma Regulamentadora 33 (NR 33), que orienta a segurança e saúde em espaços confinados. Se houver serviços em altura, também a NR 35. "As normas são rigorosas, mas, infelizmente, ainda existem aqueles que teimam em não cumprir. E os resultados geralmente são catastróficos." Nestas situações, o MPT encaminha uma equipe formada por técnicos e um engenheiro de Segurança do Trabalho. Com as análises periciais, o órgão deverá exigir da empresa que a situação seja regularizada para evitar novos acidentes, além de pleitear indenização à família da vítima.

Fonte: Folha de Londrina