Com "bloco do bem", Kireeff articula alianças para reeleição


Apesar de o prefeito negar publicamente interesse em renovar seu mandato, “blocão” já estaria costurando alianças para as eleições de 2016 e 2018

Prestes a chegar na metade do seu mandato, o prefeito Alexandre Kireeff (PSD) articula a formação de um “blocão” que iria além da garantia de apoio na Câmara Municipal, onde apesar de contar com maioria, ele tem dificuldades para aprovar a correção da planta de valores. O “bloco do bem”, que é a expressão que Kireeff usa nas conversas com seus interlocutores, passaria também por alianças eleitorais, tanto para 2016, quando estará em jogo a sucessão do atual prefeito, quanto para 2018, para evitar o excesso de candidaturas a deputado estadual – que na leitura dele impediu a eleição de representantes para a Assembleia Legislativa.

As conversas de Kireeff para a formação do bloco começaram logo após o segundo turno das eleições presidenciais, no final de outubro. Partidos como PSDB, PTB, PPS e PMDB, entre outros, já atuam junto a ele na Câmara, formando a espinha dorsal da bancada governista no Legislativo Municipal.

Na oposição, a fala é de que Kireeff estaria oferecendo, por exemplo, emendas no orçamento para atender a demandas da base do vereador que embarcar no “bloco do bem”. Um dos interlocutores disse ter ouvido do prefeito que o candidato do “blocão” em 2016 seria o próprio Kireeff, que tem negado publicamente ser candidato à reeleição. Ficariam de fora do bloco articulado pelo prefeito o belinatismo e o PT. Se concretizado, o “blocão” carregaria uma ironia: formaria algo próximo de uma “coligação-ônibus”, como aquela composta pelos 14 partidos que apoiaram Marcelo Belinati (PP), adversário de Kireeff em 2012.

Ao JL, o prefeito tentou evitar o rótulo de maniqueísmo na expressão “bloco do bem”. “É um bloco do bem para a cidade, para tentar construir uma Londrina melhor. É nesse sentido”, afirmou. “Não tem nenhum tipo de tentativa de polarizar.” Ele não adiantou quais seriam os pontos dessa agenda comum. Quanto à possibilidade de concorrer à sucessão com o apoio do blocão, Kireeff afirmou que pretende seguir a sua “linha”: “não sou a favor da reeleição. Corro esse risco de ser candidato, mas não tem nada a ver uma coisa com a outra. O objetivo dessa conversa é muito maior que uma reeleição pessoal. A motivação é melhorar Londrina”, garantiu.

Kireeff negou que o apoio seria “trocado” por atendimento às demandas das bases dos apoiadores. “Essa discussão envolve compartilhar as conquistas, inclusive no âmbito municipal.”

 

O prefeito afirmou que para além de questões eleitorais, a aliança pretende “unificar as forças que tenham esse olhar em favor da cidade” para “tomar decisões em conjunto e eleger prioridades de forma conjunta”. “Eu tenho conversado conceitualmente com vereadores e deputados estaduais e federais.”

Deputados atuam como interlocutores

Entre os deputados citados pelo prefeito Alexandre Kireeff (PSD) como interlocutores na formação do “bloco do bem”, apenas Luiz Carlos Hauly (PSDB) admite que a conversa passou pela política e as eleições de 2016. “Tivemos uma conversa preliminar, bem preliminar. Ficamos de conversar com o partido e com ele novamente, os vereadores e o partido”, afirmou. Sobre a possibilidade de as conversas progredirem para uma aliança eleitoral em 2016, Hauly afirmou que tudo “depende das condições” e que a situação “está em aberto”. 

Segundo o tucano, como Kireeff “não tem se colocado como candidato [à reeleição], abre o diálogo”. Em 2012, empurrado pelo governador Beto Richa, o PSDB de Londrina apoiou e indicou o candidato a vice-prefeito na chapa de Marcelo Belinati (PP). Nas eleições deste ano, Kireeff fez mistério e desembarcou na campanha de Richa na reta final, na mesma semana em que o governo anunciou a liberação de empréstimos para a cidade. Os dois vereadores do partido, Gérson Araújo e Roberto Kanashiro, já fazem parte da base governista na Câmara. 

O deputado estadual Tercílio Turini (PPS) disse que não conversou com o prefeito sobre a composição do “blocão”, mas que conversa com ele semanalmente. “Tenho feito o meu papel de deputado. Toda quinta-feira eu visito o Kireeff para falar de coisas que estamos fazendo, do que precisamos fazer em Curitiba”, explicou. Turini admitiu ter “proximidade” com o prefeito e que isso pode “resultar numa aliança eleitoral”, mas afirmou que até agora não foi “convidado para fazer um arranjo político”. O líder do prefeito na Câmara, Fábio Testa, é do PPS de Turini.

Já o deputado federal Alex Canziani (PTB), que foi apoiado por quatro secretários municipais durante a campanha, disse que é “do bloco de Londrina” e que tem conversado com o prefeito sobre as questões da cidade. Se isso vai resultar numa aliança eleitoral? “Não necessariamente. Ele [Kireeff] é candidato? Não sabemos”, afirmou.

Marcelo Belinati alfineta ‘bloco do bem’

Candidato ao isolamento em caso de sucesso na formação do “bloco do bem”, o deputado federal eleito Marcelo Belinati (PP), que em 2012 disputou a Prefeitura com uma “coligação-ônibus” composta por 14 partidos, posa de franco-atirador: “deixa os políticos pensarem em politicagem. Eu vou pensar em Londrina”, ironizou. Deputado mais votado em Londrina, com 37% dos votos válidos, ele disse que não sabe se volta a disputar a Prefeitura – depois de liderar a disputa inteira, ele perdeu no segundo turno, por margem apertada. “Não é o momento de pensar em eleição. Fica a sugestão para o prefeito e para os outros políticos: em vez de pensar em eleição deveriam trabalhar por Londrina, pensar em Londrina”, alfinetou. 

Quanto à possibilidade de ficar isolado por conta do “blocão”, Marcelo Belinati disse que nunca fez “política com políticos”. “Eu sempre fiz política com a população e vamos continuar fazendo assim.” 

FONTE: JORNAL DE LONDRINA