A uma semana do inĂ­cio das aulas, falta tudo nas escolas estaduais de Londrina


Restando uma semana para o início das aulas na rede estadual de ensino, o cenário é de caos em Londrina. Faltam professores, pedagogos, funcionários de serviços gerais e administrativos. A merenda, que deveria ter começado a chegar em novembro do ano passado, não veio. As canecas onde são servidas as bebidas aos alunos são insuficientes: são apenas 50 itens para atender 1,2 mil estudantes. Papel higiênico e material de limpeza também não tem.

“A situação é de total incerteza. É um desrespeito às crianças, adolescentes e aos funcionários das escolas”, diz Sueli Lopes Braga, diretora da Colégio Estadual Prof. Newton Guimarães, localizado na Vila Brasil, em Londrina.

O presidente regional do Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), Márcio André Ribeiro, completa. “O clima entre professores e funcionários é péssimo neste início de ano letivo. Estão todos desesperados diante dos últimos anúncios do atual governo.”

Corte de funcionários

Além da redistribuição de aulas, o não pagamento do terço de férias ou a rescisão de professores que haviam sido contratados em regime temporário (conhecido como PSSs, as escolas estaduais receberam um novo comunicado no início desta semana, confirmando mais um corte de funcionários.

Segundo o presidente da APP-Sindicato, o Núcleo Regional de Educação (NRE) convocou no final de semana os diretores das escolas estaduais para entregar uma espécie de programação financeira de cada instituição.

“Neste documento, recebi a informação de que deveria reduzir o número de turmas e professores. Também fui informada do corte de dez funcionários, entre pedagogos, auxiliares de serviços gerais e administrativos. Comuniquei o desligamento dessas pessoas hoje de manhã [segunda], sendo que os contratos delas haviam sido renovados em dezembro. Todo mundo chorou”, relata a diretora do Newton Guimarães.

Ribeiro conta que a situação foi semelhante em diversas escolas da cidade. “Foi uma manhã difícil. Muitos funcionários saíram das escolas chorando porque não esperavam ser demitidos agora. São pessoas que sustentam núcleos familiares e que vão ter que se reestruturar.”

O número total de funcionários desligados nesta segunda em Londrina era desconhecido pelo sindicato até o final da tarde. “Como eles comunicaram os diretores individualmente, só o núcleo tem este número”, afirma Márcio André.

Esperando pela merenda

Em relação à merenda, Sueli Lopes Braga explica que os primeiros mantimentos começam a chegar às escolas em novembro. Os últimos itens que compõem o cardápio são, normalmente, entregues entre janeiro e fevereiro. “Recebemos um comunicado do núcleo dizendo que a merenda deve chegar em breve, mas não determinaram uma data.”

O dinheiro da manutenção das escolas também não chega desde outubro, segundo a APP-Sindicato. “Anualmente são pagas dez parcelas de cotas de serviços. No ano passado recebemos oito. Ou seja, o último recurso recebido para a manutenção da escola chegou em outubro”, explicou a diretora da Escola Newton Guimarães.

Corte no contraturno

Outro problema recém-comunicado aos diretores das escolas estaduais é o corte dos programas de contraturno. Reforços escolares, aulas de basquete, futebol e xadrez, por exemplo, que são financiados pelo Estado, foram totalmente extintos neste início de ano letivo.

Apenas um programa, extinto originalmente durante o anúncio dos cortes, foi retomado. Os Centros de Línguas Estrangeiras Modernas (Celem) foram reativados na tarde desta segunda-feira em documento divulgado pelo NRE às escolas estaduais.

“Lamento esse ‘tratoraço’ na educação pública do Paraná como integrante da APP-Sindicato, membro da sociedade paranaense e pai de alunos da rede estadual”, diz Ribeiro. “Em 30 anos dedicados à educação, eu nunca vi um contingenciamento tão grande. O problema é que isso irá, fatalmente, respingar na qualidade da educação oferecida pelo governo do estado”, lamenta a diretora da escola com o melhor desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) entre as instituições públicas londrinenses em cinco ocasiões.

Representantes do governo não foram localizados

A reportagem tentou contato na tarde desta segunda-feira (2) com a chefe do Núcleo Regional de Educação (NRE) em Londrina, Lúcia Cortez, para comentar as queixas da diretora da Escola Newtons Guimarães e da APP-Sindicato, mas ela não foi localizada. A informação é de que ela participava de uma reunião para a redistribuição das aulas no Colégio Estadual Vicente Rijo nesta tarde.

Representantes da Secretaria de Estado de Educação (Seed) também foram procurados nesta tarde, mas ninguém atendeu aos telefonemas nos números divulgados pela comunicação da pasta.

Ainda nesta segunda-feira (2), a APP-Sindicato divulgou uma nota de repúdio em relação condições estruturais das escolas do estado no início deste ano letivo. As críticas são direcionadas ao governo Beto Richa (PSDB). 

Fonte: Jornal de Londrina