Governo não recua dos 5 por cento, e servidores mantêm greve


Após uma reunião frustrada com membros do governo do Paraná, no Palácio Iguaçu, os servidores públicos do Estado decidiram ontem manter a greve. Além dos professores da rede pública e dos docentes das sete universidades, paralisados há mais de 20 dias, outras categorias começaram a aderir ao movimento. De acordo com o Fórum das Entidades Sindicais (FES), o contingente, somado, abrange mais de 150 mil profissionais. A principal reivindicação é que a gestão do governador Beto Richa (PSDB) conceda um reajuste salarial de ao menos 8,17% (inflação dos últimos 12 meses), em vez dos 5% anunciados. 

Reunidos em Guarapuava (Centro-Sul), os agentes penitenciários decidiram cruzar os braços por tempo indeterminado a partir de sábado, quando se esgota o prazo de 72 horas da comunicação oficial. Conforme o Sindarspen, sindicato da categoria cuja base inclui 4,2 mil profissionais da área, apenas as atividades essenciais, como emergência e urgência médica, serão mantidas. Os funcionários do meio ambiente e da agricultura, representados pelo SindSeab, podem seguir o mesmo rumo. Eles se encontrarão hoje, às 14 horas, no Instituto Ambiental do Paraná (IAP), em Curitiba. 

Já os trabalhadores da saúde optaram pela criação de uma carta à população, a ser colocada nos locais de trabalho, ônibus e lugares de grande visibilidade, repudiando "as maldades do governador". Presente ao ato unificado ontem, no Centro Cívico, a categoria deliberou por paralisar as atividades nos dias de votação do projeto de lei da data-base. 

SEM A IMPRENSA 

Para o professor Hermes Leão, presidente da APP-Sindicato, a administração tucana cometeu ontem mais uma violência contra os servidores e a população. Ele participou, ao lado dos membros da coordenação do FES e do deputado estadual Professor Lemos (PT), do encontro na sede do Executivo. O chefe da Casa Civil, Eduardo Sciarra, o secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, a secretária da Administração, Dinorah Nogara, o secretário da Ciência e Tecnologia, João Carlos Gomes, e o líder do governo na Assembleia Legislativa (AL), Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), foram incumbidos da tarefa de representar Beto, que viajou a Brasília. A imprensa não foi autorizada a acompanhar as discussões. 

"Mesmo reconhecendo a crise financeira do Estado, nós insistimos que o governo tem um conjunto de escolhas para não penalizar os servidores", opinou Leão. Segundo ele, essa foi a primeira vez que Costa, encarregado das finanças do Estado, ouviu as reivindicações dos trabalhadores. Ao chefe da pasta foi entregue um estudo técnico e econômico, que mostraria a possibilidade de se conceder um aumento acima do IPCA. Os secretários, contudo, alegaram que as despesas com pessoal e encargos sociais do funcionalismo cresceram 76% entre 2010 e 2015, sendo que a maioria das categorias obteve ganhos reais acima de 30%. 

CONDIÇÃO 

Sciarra e Costa também condicionaram uma possível flexibilização ao retorno dos docentes às salas de aula. "Isso é um ataque ao direito constitucional de greve. O governo cria um impasse permanente", rebateu o presidente da APP. Escolhido como porta-voz do Palácio Iguaçu no que tange à questão, Romanelli confirmou as declarações dos secretários. Entretanto, garantiu que ele próprio está disposto a negociar. "Talvez o saldo positivo tenha sido o reinício de um diálogo. É possível se chegar num meio-termo", ponderou. Ele falou que não há um prazo definido para o envio da matéria à Casa. "Antes disso, tem de ser construído um consenso ou, pelo menos, um indicativo de que o projeto será aceito".

Fonte: Folha de Londrina