APP denuncia intimidação de policiais


Um funcionário de um colégio estadual de Salto do Lontra, Sudoeste do Paraná, foi ameaçado por um policial após mostrar aos alunos parte de um artefato que teria sido utilizado pela Polícia Militar durante a repressão no Centro Cívico de Curitiba no dia 29 de abril, quando mais de 200 professores e servidores ficaram feridos durante protestos em frente a Assembleia Legislativa. A denúncia foi apresentada pela direção da APP Sindicato em reunião realizada na última segunda-feira com o comandante-geral da PM, coronel Maurício Tortato. Também participaram deputados estaduais que integram a Comissão de Educação. 

Segundo o presidente estadual da APP, Hermes Leão, o episódio de Salto do Lontra foi o mais grave registrado pelo sindicato, que recebeu outras denúncias e reclamações de professores intimidados por policiais após o fim da greve. "Depois de se manifestar, o funcionário que estava no Centro Cívico no dia 29 de abril recebeu a visita do policial, acompanhado de outro colega. Em seguida, eles fizeram uma emboscada para parar o carro do professor na saída da escola. O veículo foi multado e guinchado", relatou. Além disso, Leão ainda disse que o policial voltou ao colégio à paisana e tentou conversar com alunos em busca de testemunhas para entrar com ação de danos morais contra o funcionário da escola, que não teve a identidade revelada pela APP e pode até mudar de turno por questões de segurança. "Recebemos outras denúncias de diretores que pedem para não ser identificados sobre intimidações de professores por policiais. Apresentamos o problema ao comandante-geral, que se comprometeu a acompanhar os casos e a divulgar um ofício para evitar novas intimidações", acrescentou o sindicalista. 

O presidente da APP reclamou da postura do governo estadual na tentativa de "criminalização" do movimento que paralisou as atividades nas escolas por dois períodos de greve neste ano. Hoje, uma reunião será realizada na Secretaria Estadual de Educação, em Curitiba, junto com representantes do sindicato, para discutir os descontos de quatro dias referentes ao mês de abril e o calendário de reposição de aulas. 

RELAÇÕES ESTREMECIDAS


Em nota divulgada pelo site oficial, a PM admitiu que as relações com os professores "ficaram estremecidas" após o dia 29 de abril, no entanto, o comandante-geral afirmou que os dois segmentos são importantes para o desenvolvimento social. "A visita se reveste de um caráter bem emblemático, tendo em vista que a imprensa tem pautado estarmos [PM e professores] com as relações absolutamente corroídas, o que não é verdade. Existe respeito da Polícia Militar para com toda a classe dos professores, assim como temos a certeza de que existe respeito daquela classe em relação aos policiais militares", declarou o coronel. 

Procurado pela FOLHA para comentar a denúncia da APP, a PM afirmou que o caso registrado em Salto do Lontra e outros semelhantes que possam ter acontecido serão tratados "diante do espírito de estreitamento das relações" e que medidas serão tomadas para evitar o acirramento entre professores e policiais. 

Ação Civil


Na última segunda-feira, o Ministério Público (MP) do Paraná divulgou que ajuizará uma ação civil pública por atos de improbidade administrativa contra o governador Beto Richa (PSDB), o ex-secretário de Segurança Pública Fernando Francischini (SD), atualmente deputado federal, e o ex-comandante da Polícia Militar (PM) César Vinícius Kogut por conta da repressão aos manifestantes no dia 29 de abril. Nos últimos dois meses, a Procuradoria colheu 581 depoimentos, na capital e em outros 33 municípios do interior, e analisou 4.114 arquivos com fotos e vídeos, relacionados aos episódios.

Fonte: FOLHA DE LONDRINA