PossĂ­vel queda de Dilma monopoliza debate polĂ­tico no Congresso Nacional


Seja nas trocas de mensagens em grupos do WhattsApp ou nos tradicionais jantares promovidos pelos “cabeças brancas”, deputados e senadores só falam em uma coisa: a possível queda de Dilma Rousseff. Se no plenário a discussão é quase sempre sobre motivos que levariam a um processo de impeachment, nas conversas reservadas o jogo avança várias casas. Fala-se em quem assumirá o Planalto e quando isso acontecerá muito mais do que no porquê de uma substituição do comando do país.

A rádio-corredor tem uma central de programação: a bancada do PMDB na Câmara. Antes vistos como um grupo disforme, com um vácuo entre as principais lideranças e o baixo clero, os peemedebistas viraram moda. Uma reviravolta puxada pela ascensão do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Coordenador da bancada paranaense e próximo a Cunha, João Arruda (PMDB) descreve como é o ânimo das conversas entre os peemedebistas via celular no aplicativo WhattsApp. “Uma parte da bancada fez campanha em 2014 mostrando que estava ao lado da Dilma e outra, um pouco menor, ficou contra ela. Antes, até havia um debate. Agora, os contrários passam o tempo inteiro falando que ela tem que cair enquanto os outros ficam quietos, ou já mudaram de ideia mesmo.”

O clima, no entanto, vem de antes da eleição. No começo de 2014, quando era apenas líder do partido, Cunha uniu sete legendas da base governista (PMDB, PR, PSC, PDT, PP, Pros e PTB), além do oposicionista Solidariedade, em torno do que ficou conhecido como “blocão”. O grupo deu os primeiros sinais de que a vida de Dilma no Congresso nunca mais seria a mesma.

“Hoje se fala do impeachment dentro de uma questão de estratégia política, se é melhor agora ou depois. Clima todo mundo sabe que tem”, diz o deputado Fernando Francischini (SD-PR). Ex-secretário de Segurança Pública e protagonista da batalha do Centro Cívico, Francischini é outro “parceiro” de Cunha entre os paranaenses. Além de um dos mais insistentes críticos do petismo.

Dentre todos os atuais 33 congressistas do Paraná, só o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB) tinha mandato quando Fernando Collor foi alvo de impeachment, em 1992. Para ele, a situação de Dilma é mais delicada. “PC Farias era um trombadinha perto de Vaccari e companhia”, diz o tucano, comparando o tesoureiro da campanha de Collor, Paulo César Farias, com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

Hauly faz parte de uma confraria de deputados veteranos (normalmente chamados de “cabeças brancas”, pela idade), que se reúne quinzenalmente para discutir a situação do país. Segundo ele, a intenção dos encontros recentes, liderados por Heráclito Fortes (DEM-PI), é buscar alternativas para a crise. “A gente sabe o tamanho do problema que é um impeachment.”

No Senado, onde a situação do governo é complicada por outras formas, o PSDB é mais protagonista que o PMDB no jogo de bastidores. Apesar disso, os tucanos são mais rachados. Derrotados por Dilma nas duas últimas eleições, José Serra prega moderação, enquanto Aécio Neves tem uma estratégia mais incisiva contra a presidente, alinhada a Cunha.

“É uma divisão nítida”, diz a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Para ela, os lances por trás do que acontece no plenário têm o objetivo de forçar instituições como o Tribunal de Contas da União e o Tribunal Superior Eleitoral a gerar um fato que possa levar à queda da presidente. “Estão forçando a barra para uma situação que não tem outro nome, a não ser golpe”, sustenta a ex-ministra da Casa Civil.

No Congresso, discussão sobre a crise sobra para Richa

Depois dos tucanos, os petistas foram os que mais falaram sobre impeachment ao longo do primeiro semestre de 2015, com 49 pronunciamentos sobre o tema no plenário da Câmara. Um dos assuntos preferidos do contra-ataque do PT é o governador Beto Richa (PSDB). O paranaense também foi alvo de um pedido de impeachment formulado por um grupo de juristas, mas que não avançou na Assembleia Legislativa do Paraná.

Richa foi citado em 38 discursos no período. Apenas 12 desses pronunciamentos foram feitos por parlamentares paranaenses. O recordista nas falas sobre o governador é Aliel Machado (PCdoB-PR), que se referiu a ele seis vezes.

Na última, em 28 de maio, Machado fez um discurso em desagravo aos professores estaduais e disse ter números que comprovavam que o governador tinha uma aprovação inferior à de Dilma no estado. “Isso se deve não só à atrocidade, não só por ter descido a borracha, a pancadaria em cima professores, mas pelo despreparo de quase a totalidade de suas pastas nas conduções dos trabalhos.”

Secretário estadual de Segurança Pública e um dos responsáveis pela operação contra os professores, Fernando Francischini (SD) voltou à Câmara após o episódio e teve de defender Richa. Em discurso no dia 17 de junho, discutiu com Afonso Florence (PT-BA) e falou que não entendia “de onde vem essa fixação [do PT] pelo PSDB do Paraná”. “Sua excelência [Florence] teria que olhar para o próprio umbigo, porque a presidente Dilma daqui a pouco estará presa”, completou. O petista baiano respondeu, com apoio de gritos do plenário: “Richa vai antes, Richa vai antes.” (AG)

Hauly é campeão de discursos sobre queda de Dilma

Estatísticas dos discursos dos deputados federais ao longo do primeiro semestre de 2015 comprovam a moda do impeachment na Câmara. No período, o tema foi abordado em 164 pronunciamentos em plenário (não estão atualizados todos os dados da semana passada, quando a questão também teve destaque).

O número de citações foi 34% maior do que a soma dos dois anos anteriores, quando os parlamentares se referiram ao assunto 122 vezes. O PSDB foi o partido que mais tratou de impeachment em 2015, com 54 discursos. O recordista de intervenções sobre o tema, com 11 pronunciamentos, foi o paranaense Luiz Carlos Hauly.

Na última quarta-feira (8), Hauly misturou o impeachment com outro assunto popular nas últimas semanas – a mudança do sistema de governo para o parlamentarismo. “Não vejo alternativa para a presidente que não sejam a renúncia do cargo ou o impeachment, que é um processo terrível do presidencialismo. O presidencialismo é um sistema tão pesado que não tem alternativa para a solução dos problemas”, disse. Na maioria das vezes, o tucano, que foi secretário de Estado da Fazenda durante o primeiro mandato de Beto Richa, faz críticas à política econômica de Dilma e fala sobre a necessidade de mais diálogo. “Presidente Dilma, vossa excelência tem uma grande chance de fazer o entendimento nacional. Ou então renuncie e vá para casa, senão o seu fim será o seu impeachment”, falou, em discurso de 24 de junho. (AG)

 

Dança das cadeiras

Discussões sobre uma possível queda de Dilma Rousseff giram em torno de quem fica no lugar. Confira as possibilidades:

Michel Temer (PMDB)

O vice-presidente assumiria em definitivo se Dilma sofrer impeachment ou renunciar. Na Câmara dos Deputados, o início do processo pode acontecer se o Tribunal de Contas da União rejeitar as contas da presidente do ano passado. O julgamento deve ocorrer entre agosto e setembro, mas depois dependerá de aprovação do Congresso Nacional.

Eduardo Cunha (PMDB)

Terceiro na linha sucessória, o presidente da Câmara assumiria no caso de queda de Dilma e Temer, mas apenas temporariamente. A hipótese se encaixa caso o Tribunal Superior Eleitoral condene a chapa Dilma-Temer em processo que apura uso de recursos desviados da Petrobras na campanha de 2014.

Nova eleição

Há duas hipóteses para novas eleições e ambas para o caso de Dilma e Temer serem afastados. Se a queda da dupla ocorresse na primeira metade do atual mandato, haveria nova eleição com voto direto da população. Se acontecesse na segunda metade (a partir de janeiro de 2017), haveria eleição indireta, com votos dos 594 deputados e senadores.

Fonte: Jornal de Londrina