Com salários defasados, Saúde não consegue plantonistas


A comissão de seguridade da Câmara Municipal começou ontem a rever a situação da rede municipal de saúde, um ano depois de ter feito um relatório de 200 páginas mostrando as carências das unidades básicas e de pronto atendimento. O trabalho começou pelo Pronto Atendimento Infantil (PAI) e pelo Posto de Atendimento Municipal (PAM), na Rua Benjamim Constant, no centro da cidade. De pronto, já se sabe que o problema da falta de médicos plantonistas só piorou e continua sendo o maior problema.

O PAI, que em setembro passado apontava a necessidade de mais oito pediatras, acabou perdendo cinco deles; tinha 28 e hoje só tem 23, com um afastado por licença médica e outro na coordenação. Ou seja, tem apenas 21 pediatras para o revezamento nos plantões. Aprovados em concurso, quatro pediatras foram convocados para nomeação nesta semana e só um se apresentou. O salário é mais atrativo na medicina privada e alguns médicos querem partir para especialização. Nova convocação será feita.

No PAM a situação não é diferente. Se há um ano faltavam oito clínicos geral, agora está faltando mais seis, ou seja, há uma carência de 14 médicos plantonistas. O quadro caiu de 28, há um ano, para 22. Há um grande número de médicos próximos da aposentadoria e outros pedem exoneração para trilhar outros caminhos, inclusive em outras cidades. Sete clínicos serão nomeados nesta semana, levando a unidade, praticamente, à mesma carência verificada em setembro passado. Outros 19 médicos estão sendo chamados para trabalhar em várias unidades pela cidade.

Mudança

O diretor de urgência e emergência da Secretaria de Saúde do município, Vander Oussaki, disse, após reunião de ontem no PAI e no PAM, que a expectativa é de melhora do quadro, até outubro, com a mudança da estrutura do PAM para a nova Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim do Sol, na Avenida Leste-Oeste, zona oeste da cidade. “A capacidade de atendimento na UPA do Jardim do Sol aumentará 30%, e num espaço de 2 mil metros quadrados [o PAM tem 500 metros quadrados], com um número maior de leitos e equipamentos. Vamos convocar e nomear mais médicos para aumentar o número de plantonistas para quatro por turno”, disse.

O PAM será desativado e, depois de uma reforma de todo o complexo da Benjamin Constant, o espaço será ocupado pelo Laboratório Municipal de Análises Clínicas (Centrolab). O prédio do PAI também será reformado, suprindo carências estruturais e de equipamentos.

Reclamações

Maria Angelica Oliveira, gerente do PAI, e Glaucia Elaine Sazaka, gerente do PAM, mostraram aos vereadores Gustavo Richa (PHS) e Lenir de Assis (PT) a situação das unidades. Angélica disse que o número de plantonistas por turma no PAI é insuficiente e a demora irrita os pacientes e gera reclamações. “Temos atendido não só Londrina. É uma demanda muito grande, pois atendemos também crianças de Ibiporã, Cambé, Rolândia, que está com problemas sérios atualmente. Temos plantões com três e até dois pediatras, quando o ideal seria, no mínimo, quatro”, explica Angélica. Outro problema é o distanciamento das pessoas das unidades de saúdes nos bairros, indo direto para o pronto atendimento e agravando a demanda. Essa situação não é diferente no PAM

 

Comissão vai a todas as unidades

Gerentes das unidades, vereadores e o representante da Secretaria de Saúde são unânimes em afirmar que algo precisa ser feito no que diz respeito aos salários dos médicos. Com o salário do prefeito fixado como teto, há médicos, muitos antigos, que têm valores descontados no holerite para não ultrapassar o teto e precisam deixar de fazer horas extras necessárias. O vereador Gustavo Richa, presidente da comissão, diz que será necessário aprovar projetos mudando a classificação de salários, para manter e atrair profissionais. “Teremos que aprovar mudanças na nomenclatura de cargos e funções da atividade para repor médicos em todas as áreas”, disse o vereador.
A vereadora Lenir de Assis disse que é necessário, antes da mudança dos serviços para o Jardim do Sol, melhorar a metodologia de classificação e triagem, tornando o atendimento mais racional e eficiente, de acordo com as reais necessidades de cada paciente. “Também é preciso examinar esse afastamento do morador das UBS nos bairros. É preciso entender o que está acontecendo para melhorar o serviço. Esse afastamento, essa perda de vínculo, constatados pelos profissionais, acende um sinal vermelho, pois é uma situação grave. Não dá para atender todo mundo aqui”, disse.
Essa situação poderá ser examinada de perto nas próximas semanas, já que a comissão de vereadores vai percorrer todas as unidades de saúde para atualizar o relatório anual sobre a saúde do município.

Fonte: Jornal de Londrina