Punição da corrupção é uma piada de mau gosto


Procurador da República que coordena as investigações da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol disse na manhã de ontem que o sistema de combate à corrupção no País é leniente, não funciona, incentiva a prática e só pune os mais pobres. "A punição da corrupção é uma piada e uma piada de mau gosto", disse o procurador, que fez um apelo para que o Congresso se reaproxime da sociedade. Dallagnol participou ontem de uma reunião no plenário da Câmara dos Deputados destinada a debater as 10 medidas de combate à corrupção formuladas em projeto de lei que tramita na Casa. 

Em seu discurso, o procurador disse que a corrupção mata. "O paraíso de impunidade é um paraíso de corrupção", declarou. Dallagnol disse que as medidas propostas visam desincentivar as práticas de corrupção, mas que elas só entrarão em prática após a aprovação pelo Parlamento, portanto não deverá ser aplicada nos casos investigados atualmente. "A corrupção é apartidária no Brasil." 

Dallagnol deu um recado aos parlamentares e disse que o Congresso tem em mãos a "oportunidade de ouro" para se reaproximar da sociedade. "É preciso que a sociedade reconheça que nem todo político é corrupto", afirmou. O procurador observou que o País perde R$ 200 bilhões com desvios de corrupção, disse que só 3% dos casos são punidos e defendeu que o dinheiro público volte para os serviços essenciais. 

Na semana passada, o presidente interino da Câmara, deputado Waldir Maranhão (PP-MA), assinou a criação de uma comissão especial para analisar o pacote proposto por integrantes do Ministério Público Federal. Maranhão, que é investigado na Lava Jato, não compareceu à sessão e enviou uma mensagem. A comissão especial tem 30 integrantes e só 11 foram indicados pelos partidos até agora. Quando finalizar os trabalhos, o projeto de lei seguirá para votação no plenário. 

Em março, o grupo entregou de forma simbólica ao Congresso mais de 2 milhões de assinaturas de apoio ao projeto. Entre as propostas estão criar mecanismos para dar mais transparência ao Judiciário e ao MP, tornar crime o enriquecimento ilícito por parte de agentes públicos e aumentar penas para crimes de corrupção, que se tornaria hediondo. Outra proposta reduz o número de recursos possíveis em processo penal e ainda acelera ações de improbidade administrativa.

Fonte: Agência Estado