Má gestão com interesse político prejudica Sercomtel


A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) apontou anteriormente erros na gestão da Sercomtel tomados pelos acionistas, o que têm peso no processo atual que ameaça cassar a concessão de telefonia fixa e inviabilizar a empresa. Retiradas de dividendos em anos de prejuízos contábeis e gastos além do necessários com publicidade e patrocínios quando atuava praticamente sem concorrência no mercado local constam no primeiro relatório produzido pelo órgão regulador para o período de 1998 a 2008, o que tende a ser levado em consideração em caso de investimentos pela Copel. 

 
O grupo estadual com atuação prioritária no mercado de energia é acionista minoritária da Sercomtel e alvo de apelos por investimentos de R$ 100 milhões. Os recursos evitariam que a Anatel decretasse a caducidade da concessão de telefonia fixa, operação que responde por 65% da receita estimada em R$ 250 milhões ao ano da empresa londrinense. O problema é que a Copel tem ações na Bolsa de Valores e responde a investidores privados, focados em lucros e preocupados com uma administração que atende a interesses políticos ou sociais. 


Ex-presidente da Sercomtel, Christian Schneider afirma que o primeiro relatório da Anatel que analisa a primeira década de atuação depois da abertura do mercado a empresas privadas, que foi até 2008, cita danos de acionistas à empresa. A telefônica londrinense já tinha controle dividido entre Prefeitura (55%) e Copel (45%). "Foram retirados juros sobre capital próprio da empresa da ordem de R$ 39 milhões aproximadamente com a empresa operando com prejuízos contábeis sucessivos. Isso foi considerado prática perigosa pela Anatel à concessão de serviço de telefonia fixa porque é uma outra forma de retirar dinheiro da empresa, reduzindo a liquidez da concessão", diz. 

Schneider aponta ainda gasto excessivo de publicidade, patrocínio e propaganda, particularmente até 2005, quando a Sercomtel praticamente ainda tinha o monopólio na cidade. "De forma direta ou indireta, isso dilapida o patrimônio da empresa", completa. 

Também ex-presidente justamente no governo interino do ex-prefeito José Roque Neto no primeiro quadrimestre de 2009 e funcionário de carreira por 35 anos da Sercomtel, Mario Jorge Tavares não cita eventuais danos políticos, mas atuou de acordo com orientações da Anatel. "Reduziu-se ao máximo verbas voltadas a patrocínios culturais, esportivos e sociais e restringiu-se a publicidade à mídia técnica", diz. "Houve priorização dos recursos finitos da Sercomtel para a expansão em outras áreas, pois a Sercomtel se deparou com concorrência na área original de atuação", completa. 

Os diretores atuais da Sercomtel preferem não opinar diretamente sobre gestões anteriores. "Não sei te falar se as ações que aconteceram em 2000 e tanto foram adequadas, mas, segundo o relatório da Anatel, muitas não (foram). E estamos pagando essa conta hoje, assim como a administração anterior também foi vitimada por isso", diz a diretora financeira da empresa, Rosângela Oliveira. "Não sou político. Quem pode opinar sobre isso são os sócios", complementa o atual presidente, Hans Muller. 

O próprio prefeito Marcelo Belinati (PP) afirma que somente olha o passado para evitar repetir os mesmos erros, mas que é hora de buscar uma solução rápida. "Houve um período em que a Sercomtel patrocinava até corrida de formiga e não houve gestão para preservar a saúde financeira para o futuro", diz. Para ele, a administração política pode ser bem feita se buscar o bem-estar geral, mas admite inconsistências. "Por isso, temos de buscar um modelo de gestão que não permita isso." 

Questionado se a chance de repetição desses erros não afugentaria a aprovação de investimentos da Copel por acionistas privados, Belinati cita que a empresa de energia participa da gestão da Sercomtel e pode assumir papel maior se investir. Ele não fala diretamente sobre ceder o controle acionário, mas deixa a porta aberta. "Minha visão é que a única forma de preservar a Sercomtel, dado o volume de dívidas e a necessidade de investimentos, é pela Copel e pelo governo do Estado." 

PRIVATIZAR OU NÃO 
O atual presidente da Sercomtel considera que a empresa é viável, com receita de R$ 240 milhões ao ano e em crescimento, com potencial de se tornar uma das grandes do País se unir forças com a Copel Telecom. "A Copel está nos 399 municípios do Estado com a rede de fibra óptica deles e nós temos autorização de telefonia fixa para os 399 municípios", diz. "Temos um negócio que gera R$ 240 milhões ao ano e crescendo, com clientes da Oi vindo para nossa base sem termos de fazer apelo forte, sem dinheiro investido a mais. Vai falar que o negócio é ruim?" 

Nos bastidores, analistas de mercado afirmam que a união das empresas não está descartada, mas com chance de privatização da Copel Telecom e da Sercomtel, juntas. Como o foco da Copel Holding é a geração de energia, a empresa poderia abrir mão da telefonia. Belinati, porém, contesta a possibilidade. "Meu sonho é pela união da Sercomtel e da Copel Telecom, mas sem privatização. Sinto que o governo Beto Richa está sensível e quer ajudar", conta.

Fonte: Folha de Londrina