CURSO IRREGULAR MOVIMENTOU R$ 140 MILHÕES NO PARANÃ


Programa foi ofertado entre 2002 e 2006 a professores paranaenses, que até hoje não receberam o diploma.

Nenhum dos 29 mil concluintes do Programa de Capacitação para Docência dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e da Educação Infantil da Faculdade Vizinhança do Iguaçu (Vizivali) recebeu diploma reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). O curso foi ofertado entre 2002 e 2006 a professores paranaenses com formação de nível médio, chegou a ter 38 mil alunos e movimentou um total estimado de 140 milhões, segundo o Deputado Péricles de Mello (PT).

 

Por uma mensalidade de R$ 130, a promessa era que os alunos teriam, no fim de dois anos, direito ao diploma de licenciatura com habilitação em Educação Infantil. Sete anos depois, a validade do curso está em xeque. Para a Presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Célia Brandão, a ilegalidade está na modalidade em que o programa foi ofertado. “O Conselho Estadual de Educação não poderia autorizar um curso nessa modalidade a distância”, alertou.

 

Outra irregularidade no curso da Vizivali está na parceria com a empresa de materiais didáticos Iesde Brasil S/A. “O fato da execução do curso ser terceirizada é mais grave ainda porque somente a instituição com credenciamento para realizá-lo poderia efetivamente ofertá-lo”, esclareceu.

 

Em entrevista à Folha, o diretor da Vizivali, Paulo Fioravante Giareta, admitiu que a faculdade tinha funções burocráticas na gestão do Programa “Nosso trabalho era o de respaldo documental e de auxílio pedagógico”, contou. Em 2002, a Vizivali, que foi criada em 1999, tinha apenas 300 alunos nos cursos presenciais e não havia formado ainda a primeira turma do curso de Pedagogia.

 

Para acomodar os documentos e trabalhos de conclusão de curso dos 38 mil alunos do Programa, a Vizivali chegou a construir salas novas. “Temos uma ala só para guardar todo esse material”, contou.

 

Dos valores pagos pelos alunos, explica Guareta, menos de 10% eram transferidos para a Vizivali e a União dos Dirigentes Municipais de Educação do Paraná (Undime-PR). “Por contrato, a Undime recebia 2% para cobrir despesas com divulgação e a Vizivali ganhava entre 5% e 6% do valor do curso”, contou.

 

Em campo, nas cidades em que o curso foi ofertado em todo o Paraná, a face institucional do curso era o Iesde. Nos contratos assinados por milhares de alunos em todo o Estado, a empresa aparece como fornecedora de materiais didáticos. “Para nós era o curso do Iesde”, lembrou a ex-aluna Elisabete Fabrício Plácido, de Palotina (96 km ao norte de Cascavel).

 

REPORTAGEM COMPLETA PUBLICADA NO JORNAL FOLHA DE LONDRINA, EDIÇÃO DE 17/08/2009.